Poupar água: uma questão de sobrevivência
A
água potável é talvez o bem essencial mais escasso e ameaçado que
existe no planeta Terra. Prevê-se que, em 2025, cerca de 1,8 milhões
de pessoas vivam em zonas com escassez de água e 2/3 da Humanidade
sofram restrições no abastecimento, um cenário que pode ser ainda
mais grave com o avanço das alterações climáticas. Mas há outras
variáveis que contribuem para a escassez da água: as alterações
nos hábitos de consumo. Nos últimos cinquenta anos, o consumo de
água duplicou, sobretudo nos países desenvolvidos: aí, uma criança
consome entre 30 a 50 vezes mais água do que uma criança num país
sub-desenvolvido.
De
acordo com um relatório da World Wildlife Fund, nos Estados Unidos,
cada pessoa utiliza diariamente 400 litros de água, enquanto um
europeu utiliza 300 litros, e nos países em vias de desenvolvimento,
apenas 10 litros. No caso português, as estimativas apontam para um
consumo médio de 150 litros por dia, mas desses apenas 5 litros têm
de ser água potável.
Para
além de um problema ambiental e humanitário, o consumo
desnecessário de água potável levanta também questões
económico-financeiras, dado que a factura da água pesa bastante no
orçamento familiar – cerca de 2 por cento, segundo as contas da
Entidade Reguladora dos Sistemas de Águas e Resíduos. No Dia
Mundial da Poupança, que se comemora sábado, 31 de Outubro, vale a
pena pensar no que está ao alcance de cada um para diminuir esta
factura.
Antes
de mais, atitudes básicas: verifique o estado de conservação das
torneiras, já que uma torneira a pingar gasta 25 litros de água por
dia; feche a torneira quando se estiver a ensaboar, no duche, ou a
fazer a barba – uma torneira aberta no lavatório pode gastar 9
litros de água por minuto; substitua os banhos de imersão por
duches rápidos; faça descargas de autoclismo apenas quando
necessário e, se possível, coloque uma garrafa de água cheia
dentro do reservatório para diminuir o volume. Mas as sugestões não
se ficam por aqui. “Xixi no banho” é o nome de uma campanha
publicitária lançada por uma associação brasileira, cujo
objectivo é estimular as pessoas a urinar no duche. Isto porque uma
descarga de autoclismo a menos, por dia, equivale a 4380 litros de
água potável por ano.
Substituir
água potável por água da chuva
Utilizar
a máquina de lavar roupa ou regar o jardim implica o gasto de cerca
de 30 litros de água por dia. Uma forma de evitar este consumo é a
utilização da água da chuva. A instalação de um depósito de
recuperação destas águas pode permitir poupar até 50 por cento da
factura mensal da água.
A
utilização da água da chuva na rega de jardins e espaços verdes é
mesmo uma das medidas previstas no Plano Nacional para o Uso
Eficiente da Água (PNUEA). Segundo o plano, se for instalado um
reservatório com volume suficiente para substituir 50 por cento das
necessidades de rega, a poupança potencial desta medida é de 20
metros cúbicos anuais, por jardim.
Mas
a água da chuva é utilizável em outras actividades básicas do
dia-a-dia: pode satisfazer os grandes consumos nos edifícios,
como banhos, autoclismos, ou a lavagem de espaços exteriores. Para a
lavagem da roupa, também é possível utilizar água da chuva, mas
existem ainda algumas dúvidas, relacionadas com questões
sanitárias.
Portugal
dá primeiros passos
Nos
Estados Unidos, Japão, Hong Kong, Malásia, Austrália, Singapura,
Israel, Alemanha e Brasil, entre outros países que têm escassez de
água, a utilização e a investigação de águas pluviais para
consumo e outros usos é uma realidade. No Brasil, há mesmo um
projecto de lei que obriga ao aproveitamento da água das chuvas,
datado de 2005. No entanto, em Portugal dão-se ainda os primeiros
passos neste domínio.
Os
poucos projectos que existem estão ligados a empreendimentos de
cooperativas de habitação económica, como é o caso da Norbiceta,
em Matosinhos, e da Colmeia, em Odivelas. No entanto, as
potencialidades do País são enormes, tendo em conta a necessidade
de utilização de grandes volumes de águas para regas, sobretudo no
Alentejo e Algarve, em campos de golfe e em jardins dos
empreendimentos turísticos ali existentes.
Para
além disso, os especialistas apontam também vantagens económicas
no uso desta tecnologia. Em habitações unifamiliares de cinco
pessoas, o conjunto de infra-estruturas interiores da habitação,
reservatório e equipamento electromecânico, custa entre 3 e 5 mil
euros, dependendo dos usos dados à água recolhida e tratada. O
tempo de retorno do investimento é de 10 a 12 anos, mas a
rentabilidade é maior em edifícios colectivos e em indústrias.