Colunista Ana Luís (Água-Gestão de Activos): O desempenho dos indicadores de desempenho

Colunista Ana Luís (Água-Gestão de Activos): O desempenho dos indicadores de desempenho

Escrevo numa altura em que por este país fora, nas entidades gestoras de água e saneamento, se encontram pessoas “de cabelos em pé" a compilar a informação necessária para o reporte dos indicadores de desempenho ao regulador. Aquilo que, para alguns, poderá parecer um “mal necessário” é, a meu ver, um bem de capital importância.

“Mal necessário”, porque pode haver discordância em relação ao modo como alguns dos indicadores são concebidos – e, a este respeito, adivinham-se grandes mudanças para breve. Não obstante, as entidades gestoras têm o direito de comunicar ao regulador os seus pontos de vista, tornando-se assim coparticipantes no processo de revisão dos indicadores por parte do regulador - cabendo a este ser sensível e aberto aos argumentos aduzidos. “Mal necessário”, também, porque em muitas entidades gestoras não existem meios humanos ou sistemas de informação de suporte que permitam aliviar as áreas operacionais destas tarefas de reporte.

No entanto, este reporte anual dos indicadores de desempenho ao regulador assume uma importância capital, não só por ter vindo a alavancar uma maior sistematização dos processos de organização da informação dentro das empresas, como por ter gerado um manancial de informação e um conhecimento do país que antes não existia (apesar de a fiabilidade dos dados em alguns casos ser ainda muito baixa).

"Mas qual a relação deste tema com a gestão de ativos?" - estará o leitor a pensar. Na realidade, alguns dos indicadores de desempenho definidos pelo regulador pretendem monitorizar o impacte  do desempenho dos ativos sobre determinado objetivo. Contudo, há que acautelar que o todo não é tomado pela parte: para além destes, existem muitos outros indicadores que devem ser monitorizados se quisermos efetivamente conhecer o desempenho de todos os ativos de determinado sistema. Assim, atendendo ao contexto próprio de cada entidade, um gestor de ativos deverá definir quais os indicadores que, em jeito de boneca matrioska,

  • Permitem comparar o desempenho dos seus ativos com os de outras entidades gestoras (nacionais e/ou internacionais);
  • Permitem comparar o desempenho de ativos de uma mesma natureza dentro da própria empresa;
  • Permitem comparar o desempenho de um ativo consigo mesmo (performance ao longo do tempo).

Sendo o desígnio máximo da função “gestão de ativos” procurar o equilíbrio entre o desempenho, o risco e o custo associados aos ativos, o "desempenho" dos ativos está também interligado com a dimensão "risco". Por exemplo: se duas condutas apresentam o mesmo desempenho em termos do número de avarias/km/ano (i.e., igual probabilidade de falha), terá maior risco para o serviço aquela que afetar um maior número de clientes (i.e., maior consequência) - mas sobre Risco falarei numa próxima ocasião.

Voltando aos indicadores de desempenho, todos os dias é produzida uma quantidade apreciável de dados sobre os ativos (basta pensar nos sistemas de informação geográfica, de manutenção, de operação, financeiros, etc., bem como nos tradicionais ficheiros Excel…). O papel dos indicadores de desempenho é, assim, o de permitir transformar os dados em informação. Caberá depois aos gestores de ativos converter a informação emconhecimento.

Um processo de gestão de ativos que, através da monitorização do desempenho dos ativos e do respetivo risco associado, induza a geração de conhecimento promovendo o alinhamento entre as vertentes operacional e estratégica do negócio, pode ambicionar chegar ao último estádio na escala de maturidade definida pelo Institute of Asset Management – “Otimizado”. Basta pensar na clássica dialética “ação-conhecimento”: porque conheço, ajo melhor; porque ajo melhor, gero novo conhecimento… e assim sucessivamente, num processo de otimização contínua.

E porque não tentar pôr em marcha esta dialética nas nossas empresas (e nas nossas vidas)?

Ana Luís é Engenheira Civil (1996, IST), Mestre em Engenharia Mecânica (1999, IST) e Doutorada em Gestão do Risco (2014, Universidade de Cranfield). Em 1996 integrou os quadros da Gibb Portugal, onde participou/ coordenou projetos nas áreas de regularização fluvial, planos de segurança de barragens, planos de bacia, sistemas de informação geográfica, conceção de sistemas de abastecimento de água, entre outros. Em 2006 integrou os quadros da EPAL, tendo participado na génese da Gestão de Ativos e desenvolvido modelos de análise de risco e multicritério para apoio à decisão sobre os investimentos. É, desde 2008, responsável pela Unidade de Planeamento de Ativos da Direção de Gestão de Ativos, e entre 2010 e 2014 coordenou o GAC – Grupo para o estudo das Alterações Climáticas da EPAL. A autora escreve, por opção, ao abrigo do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. As opiniões expressas neste artigo vinculam apenas a autora.

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