
Colunista António Sá da Costa (Energia - Renováveis): Balanço das renováveis em 2015
Todos anos em janeiro faço o balanço de eletricidade renovável do ano anterior, mas antes de o fazer tenho, desta vez, de salientar dois factos ocorridos no passado mês de dezembro.
O primeiro refere-se ao acordo de Paris que apesar de não ter alcançado todos os objetivos previstos, conseguiu ser um avanço muito importante no combate às alterações climáticas e à descarbonização da sociedade. Tenho de louvar o acordo alcançado pelos 195 países e o esforço feito pelo governo francês, que teve papel fulcral.
Cabe agora a cada país definir as suas metas e a sua calendarização e, claro, esperar que os mecanismos de verificação previstos tenham um funcionamento efetivo, conseguindo manter as intenções agora acordadas no domínio das realizações concretas. Nesta área o governo do nosso país terá de quantificar e calibrar as metas por setor, para que se alcance o objetivo mínimo de 40% de origem renovável no consumo de energia já definido para 2030.
Esta quantificação prende-se, nomeadamente, com a definição de objetivos de redução de emissões de gases com efeito de estufa, de eficiência energética e de penetração renovável na eletricidade, nos transportes e no aquecimento e arrefecimento. Espero que estas definições sejam feitas numa discussão alargada com a Sociedade e com os stakeholders do setor energético, no mais curto prazo possível.
O segundo facto é de que, pela primeira vez, na madrugada de 28 de dezembro passado, Portugal Continental foi totalmente abastecido de eletricidade por centrais eólicas durante um período de 3.5 horas. Isto demonstra uma realidade impensável há 10 anos e que só foi possível com a colaboração de todos, não só dos técnicos dos operadores das redes elétricas de transporte (REN) e distribuição (EDP-Distribuição) mas também de todos os operadores das centrais renováveis do nosso País, nomeadamente das centrais eólicas. Este é mais um marco na história da eletricidade em Portugal.
Em 2015 a produção de eletricidade a partir de fontes renováveis em Portugal foi responsável por 50,4% do total produzido no continente, sendo os restantes 49,6% de origem fóssil, o que evidencia a posição de liderança das renováveis na produção de eletricidade no continente.
Apesar da quebra de 14,5% na produção de eletricidade renovável em 2015 face a 2014, principalmente devido a 2015 ter sido um ano hidrológico fraco (74% da média), a eletricidade renovável manteve a sua posição de destaque e registou marcos importantes ao nível da energia solar e eólica.
A eólica foi a que teve uma maior contribuição no mix nacional com 22,5%, seguida da hídrica com 19,1% e da biomassa com 5.1% da produção nacional. A solar fotovoltaica registou o maior aumento em termos de potência instalada, na ordem de 10%; contudo, a sua contribuição de apenas 1,6% no mix nacional ainda é baixa face ao potencial nacional.
Votos de um 2016 cheio de energia renovável, pois…
Portugal precisa da nossa energia.
António Sá da Costa é presidente da APREN – Associação Portuguesa de Energias Renováveis e Vice-Presidente da EREF – European Renewable Energy Federation e da ESHA – European Small Hydro Association. Licenciou-se como Engenheiro Civil pelo IST- UTL (Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa) (1972) e tem PhD e Master of Science pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology (USA) em Recursos Hídricos (1979). Foi docente do IST no Departamento de Hidráulica e Recursos Hídricos de 1970 a 1998, tendo sido Professor Associado durante 14 anos; tem ainda leccionado disciplinas no âmbito de cursos de mestrado na área das energias renováveis, nomeadamente na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e na Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Portalegre; Exerceu a profissão de engenheiro consultor durante mais de 30 anos, sendo de destacar a realização de centenas de estudos e projectos na área das pequenas centrais hidroeléctricas; Foi fundador do Grupo Enersis de que foi administrador de 1988 a 2008, onde foi responsável pelo desenvolvimento de projectos no sector eólico e das ondas e foi Vice-Presidente da APE – Associação Portuguesa da Energia de 2003 a 2011.O autor escreve, por opção, ao abrigo do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.