Colunista António Sá da Costa (Energia-Renováveis): A eletricidade renovável e alterações climáticas
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Colunista António Sá da Costa (Energia-Renováveis): A eletricidade renovável e alterações climáticas

Diariamente toda a humanidade emite para a atmosfera uma grande quantidade de energia, segundo Al Gore o equivalente à energia de 400 000 bombas atómicas, semelhante à que foi lançada sobre Hiroxima em agosto de 1945. Isto sem contabilizar as emissões de gases com efeito de estufa.

Esta “ineficiência energética”, advém do facto de se utilizar muito motores de combustão interna alimentados a hidrocarbonetos líquidos, de se usar na produção de eletricidade muitas centrais térmicas a carvão, gás natural ou fuel, e outras formas de transformar a energia com recurso a máquinas térmicas, cujo rendimento médio se situa na casa dos 15 a 30%.

As leis da Termodinâmica, são ditatoriais e nada as muda, pois os motores térmicos precisam de uma fonte quente, o processo de combustão, e uma fonte fria exterior, a atmosfera ou uma massa de água apropriada, sendo que o rendimento final é sempre baixo pois uma parte significativa da energia primária vai para a fonte fria, sem nenhum ganho para a utilização direta que se pretende.

O resultado desta situação está à vista de todos. Dos 15 anos mais quentes verificados no Mundo 14 tiveram lugar já neste século, e mais impressionante, o janeiro de 2016 foi o janeiro mais quente desde que há registos.

Para além do calor que é emitido desnecessariamente para o meio ambiente, adicionam-se as emissões de gases com efeito de estufa e as partículas nocivas, que ao longo de décadas têm efeito direto nas alterações climáticas e provocam doenças e mortes prematuras, 7 milhões de mortes prematuras por ano segundo a World Health Organization.

Já há consciência de que esta situação tem de ser invertida. A questão é se ainda se vai a tempo de limitar os danos a níveis controláveis e reversíveis. A tarefa que enfrentamos é enorme e tem de envolver o esforço coordenado de toda a população mundial, com um grau diferente de participação, cabendo o maior esforço aos países desenvolvidos. Contribuindo cada um na medida das suas capacidades potenciais, financeiras ou dos seus recursos naturais renováveis.

Portugal está a fazer parte do seu papel. Digo parte pois no setor da eletricidade, que corresponde a cerca de 28% do uso da energia, já se tem uma contribuição interessante das fontes renováveis, cerca de 54% em ano normalizado, continuando com uma trajetória ascendente tudo apontando para que em 2020 se aproxime de 60%, 80% em 2030, conforme o que defende o Governo, em linha com a estratégia do Governo anterior e, finalmente, em 2040 estaremos em condições de atingir 100% renovável na eletricidade.

A tecnologia na produção, na operação das redes e nos sistemas de armazenamento, permite encarar esta meta de 100% como natural e atingível sem a necessidade de qualquer descoberta disruptiva no setor, que a acontecer permitirá mesmo a antecipação da meta dos 100%.

Esperemos que os restantes usos da energia, os transportes e o setor do aquecimento e do arrefecimento, responsáveis pelos restantes 78% do consumo de energia primária em Portugal, também aumentem a sua percentagem de renováveis, de modo a que em 2030 se ultrapasse facilmente a meta de 40% de renováveis no uso total da energia, pois:

Portugal precisa da nossa energia.

 

António Sá da Costa é presidente da APREN – Associação Portuguesa de Energias Renováveis e Vice-Presidente da EREF – European Renewable Energy Federation e da ESHA – European Small Hydro Association. Licenciou-se como Engenheiro Civil pelo IST- UTL (Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa) (1972) e tem PhD e Master of Science pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology (USA) em Recursos Hídricos (1979). Foi docente do IST no Departamento de Hidráulica e Recursos Hídricos de 1970 a 1998, tendo sido Professor Associado durante 14 anos; tem ainda leccionado disciplinas no âmbito de cursos de mestrado na área das energias renováveis, nomeadamente na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e na Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Portalegre; Exerceu a profissão de engenheiro consultor durante mais de 30 anos, sendo de destacar a realização de centenas de estudos e projectos na área das pequenas centrais hidroeléctricas; Foi fundador do Grupo Enersis de que foi administrador de 1988 a 2008, onde foi responsável pelo desenvolvimento de projectos no sector eólico e das ondas e foi Vice-Presidente da APE – Associação Portuguesa da Energia de 2003 a 2011.O autor escreve, por opção, ao abrigo do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. 

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