Sá da Costa (Renováveis): O que é necessário para cumprir meta de eletricidade renovável em 2016
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Sá da Costa (Renováveis): O que é necessário para cumprir meta de eletricidade renovável em 2016

Ter 60% de eletricidade de origem renovável do total do consumo elétrico em Portugal em 2020 é o objetivo a que nos propusemos. Resta saber como estamos.

De acordo com os últimos dados normalizados, isto é nivelados para indicadores de pluviosidade e de eolicidade médios, publicados pela DGEG em 2015 atingimos o valor de 52.2% de renováveis na eletricidade, o que indica que ainda há muito a percorrer.

É difícil chegar aos 60%, mas com a colaboração de todos os intervenientes, Governo, entidades licenciadoras e promotores, creio que atingiremos os objetivos. Mas vejamos as contas que fiz.

Em 2015 o consumo de eletricidade em Portugal foi de 52.7 TWh, as renováveis contribuíram com um valor normalizado de 27.5 TWh. Admitindo um crescimento do consumo de 0.5% ao ano, o seu valor em 2020 será de 54 TWh., pelo que as renováveis terão de atingir uma produção de 32.4 TWh. Como nota, posso referir que em 2015 o montante de eletricidade renovável foi alcançado graças às seguintes contribuições: hídrica - 11.55 TWh, eólica ‑ 11.98 TWh, solar ‑ 0.80 TWh, e biomassa ‑ 2.98 TWh e geotermia  ‑ 0.2 TWh.

Admiti que a situação relativa às centrais de bioenergia e de geotermia se mantinha praticamente inalterável. Qualquer evolução no sentido de aumento vem reforçar a situação final permitindo a cobertura de algum desvio negativo.

Até 2020 está prevista a entrada em operação das centrais hidroelétricas de Baixo Sabor, Foz Tua, Venda Nova III, Salamonde II, Paradela II, Girabolhos e duas pequenas centrais hídricas. A maior parte das grandes centrais são reversíveis e dimensionadas para produzir eletricidade de ponta, estimando que a contribuição líquida destas centrais seja de 1.07 TWh.

A contribuição adicional das centrais eólicas, ainda em construção ou por concretizar, num total de cerca de 700 MW, vão acrescentar mais 1.88 TWh. Ficam pois a faltar 1,95 TWh para o objetivo dos 60%, que podem provir de centrais solares, 200 MW em instalações de micro e mini geração e cerca de 870 MW em centrais de média ou larga dimensão.

Parece fácil, não é? Pois mas isto é no papel, na prática é outra coisa. Há ainda muitos “ses” para alcançar o objetivo, que representam mais de 3.5 mil milhões de euros de investimento. É preciso pois que os promotores não desistam dos seus projetos, que as entidades licenciadoras não criem obstáculos e entraves desnecessários que atrasem o desenvolvimento dos mesmos, que o Governo continue a apostar no País e no seu potencial em usar os seus recursos endógenos renováveis, criando um ambiente regulatório estável que só irá beneficiar o setor produtivo no curto e médio prazo.

Continuemos pois a fazer o nosso trabalho, trilhando o árduo caminho ainda a percorrer, de forma segura e séria como sempre temos feito, sabendo distinguir quem dá à luz os projetos dos que dizem que vão os fazer, mas nunca os concretizam, e dos que só falam para não deixar fazer, por não acreditarem na evolução da tecnologia continuando presos a conceitos com mais de 30 anos. A nossa ideia mantém-se, o caminho faz-se caminhando pois:

Portugal precisa da nossa energia.


António Sá da Costa é presidente da APREN – Associação Portuguesa de Energias Renováveis e Vice-Presidente da EREF – European Renewable Energy Federation e da ESHA – European Small Hydro Association. Licenciou-se como Engenheiro Civil pelo IST- UTL (Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa) (1972) e tem PhD e Master of Science pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology (USA) em Recursos Hídricos (1979). Foi docente do IST no Departamento de Hidráulica e Recursos Hídricos de 1970 a 1998, tendo sido Professor Associado durante 14 anos; tem ainda leccionado disciplinas no âmbito de cursos de mestrado na área das energias renováveis, nomeadamente na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e na Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Portalegre; Exerceu a profissão de engenheiro consultor durante mais de 30 anos, sendo de destacar a realização de centenas de estudos e projectos na área das pequenas centrais hidroeléctricas; Foi fundador do Grupo Enersis de que foi administrador de 1988 a 2008, onde foi responsável pelo desenvolvimento de projectos no sector eólico e das ondas e foi Vice-Presidente da APE – Associação Portuguesa da Energia de 2003 a 2011.O autor escreve, por opção, ao abrigo do novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.  

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