Colunista João Joanaz de Melo (Energia - Tendências): O sector energético depois da COP de Paris

Colunista João Joanaz de Melo (Energia - Tendências): O sector energético depois da COP de Paris

Começou hoje em Paris a COP21 da Convenção-Quadro sobre as Alterações Climáticas. Seja qual for o resultado, algumas tendências são claras:

  • Reúne largo consenso científico a evidência das alterações climáticas com origem nas actividades humanas. O consenso político, ainda que lento e difícil, vai no mesmo sentido. A questão não é se, mas como, serão restringidas as emissões de gases de efeito de estufa;
  • Fontes energéticas renováveis como eólica, solar, geotérmica e biomassa, são hoje rentáveis face às energias convencionais. Destaque-se em especial a emergência crescente do fotovoltaico;
  • Estamos a mudar do velho paradigma da produção centralizada (refinarias, centrais térmicas e hídricas) para o novo paradigma do produtor-consumidor descentralizado e das redes inteligentes: é uma revolução tanto tecnológica como institucional;
  • As tecnologias convencionais estão a tornar-se obsoletas: investimentos no nuclear, petróleo e grandes barragens enfrentam hoje rentabilidades negativas, além dos graves problemas ambientais já conhecidos. Por todo o mundo, tais investimentos só ocorrem com a muleta dos subsídios estatais; daí a oposição das oligarquias da energia às negociações climáticas, cujo sucesso prejudicará negócios já periclitantes;
  • O preço do petróleo, em baixa devido à crise económica e à novidade do gás de xisto, aumentará com a retoma; e continuará volátil por força da instabilidade política na maioria dos países produtores. O preço do gás de xisto subirá com o agravamento dos conflitos associados ao uso da água. As alternativas, embora viáveis e progressivamente adoptadas, continuam a ser caras. No futuro previsível não haverá energia barata.

Para conseguirmos ter sucesso na mitigação e adaptação às alterações climáticas, as decisões e medidas fundamentais incluem:

-          A aposta inequívoca na eficiência energética, na indústria, edifícios e transporte público;

-          Uma reforma fiscal a sério, que acabe com os subsídios perversos na energia e transportes, e crie meios de incentivo à eficiência e às energias alternativas;

-          O abandono do consumismo como estilo de vida, factor chave subjacente à poluição e à depleção de recursos naturais.

Quanto mais tarde assumirmos estas opções, mais difícil será evitar males maiores, em matéria de alterações climáticas e não só. São opções duras, que requerem, mais do que coragem política, uma mudança de mentalidades. Nas palavras do Papa Francisco na Encíclica Laudato Sí, precisamos de uma “conversão ecológica”.

João Joanaz de Melo é licenciado e doutorado em Engenharia do Ambiente e professor na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. Amante da Natureza, activista nas horas vagas, foi fundador e presidente do GEOTA.

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