Duas ilhas dos Açores viram costas à reciclagem e apostam na incineração
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Duas ilhas dos Açores viram costas à reciclagem e apostam na incineração

O investimento em duas unidades de incineração nos Açores vai prejudicar a reciclagem naquela região autónoma. O alerta é do especialista em resíduos da associação ambientalista Quercus, Rui Berkemeier.

A unidade de valorização energética da Terceira, promovida pela Teramb, foi concluída em Outubro do ano passado e já se encontra licenciada para entrar em funcionamento.

Para a ilha de São Miguel está prevista uma nova incineradora da Musami que poderá ser financiada por fundos comunitários no âmbito do PO SEUR (Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos). O processo ainda está em análise.

“A reciclagem vai ter um travão porque se há centrais de incineração estas terão que ser alimentadas”, concretiza. Não é por acaso, ilustra, que no PERSU 2020 sistemas implantados em zonas muito populosas possuem incineradora e têm metas com metas

fraquíssimas, caso da Valorsul e Lipor, com 42 e 35 por cento, respectivamente, enquanto que outros sistemas têm metas de 80 por cento para cumprir.

Outro dos problemas é que se estão a queimar resíduos urbanos com baixo poder energético. “O lixo em bruto tem um poder energético fraquíssimo”, sublinha Rui Berkemeier.

O especialista considera que a situação poderia ser minimizada com a instalação, a montante do processo, de unidades de Tratamento Mecânico Biológico (TMB) que permitiriam retirar recicláveis do lixo indiferenciado. Além de aumentar o potencial de reciclagem este ajuste permitiria maior eficiência energética. “O rejeitado do TMB gera mais energia porque já não tem a componente orgânica. Falamos de menos resíduos, mas que produzem mais energia”, resume.

Por outro lado com a componente de investimentos são demasiado avultados, segundo Rui Berkemeier. “Se investissem no TMB e só enviassem para queimar o remanescente num incinerador mais pequeno o investimento ficava globalmente mais barato”, exemplifica.

E porque se irá queimar plástico que deveria ser reciclado serão emitidos gases com efeito de estufa. A questão do emprego também não é descurada pela Quercus. “Queimando o lixo vamos ter menos postos de trabalho. Uma unidade de pré tratamento gera mais emprego do que a incineração”, salienta o especialista.

Para as ilhas Terceira e São Miguel estão previstas metas de 50 por cento, que deixam algumas dúvidas à Quercus. “Não sei como o vão fazer se até agora só conseguiram entre 25 e 26 por cento”, ilustra.

Mais confiante mostra-se o administrador da Teramb, Paulo Monjardino, que garante que está entre os objectivos da entidade atingir as metas de reciclagem para 2020. “Estamos cientes que da ilha Terceira recuperam-se anualmente cerca de 2800 toneladas de materiais recicláveis e que tal valor tem de ser significativamente melhorado”, reconhece.

ESTRATÉGIA PASSA POR DESVIAR DE ATERRO

O projecto de investimento da Teramb, que está quase concluído, inclui além da central de incineração para valorização energética, uma central de compostagem simplificada, um centro de processamento de resíduos animais, bolsas de resíduos banais e resíduos perigosos, um ecocentro ente outras estruturas.

Paulo Monjardino explica que a existência da incineradora se explica com a necessidade de processar os resíduos perigosos de origem biológica e outras fontes e de resíduos já depositados em aterro. “Tem de ficar bem claro que nesta unidade estão excluídos todos os resíduos recolhidos seletivamente destinados à reciclagem e reutilização, por isso funciona em complemento da unidade de triagem existente, mas nunca concorrendo com ela”, garante.

Com esta estratégia a Teramb ganhou capacidade de processar “quase todo o tipo de resíduos, situação essa que anteriormente ou com uma solução tipo TMB não seria possível”, justifica ao Ambiente Online.

O responsável espera reduzir 10 por cento na deposição de resíduos em aterro, aumentar a produção de energia elétrica de fonte renovável, dar solução eficaz ao processamento de subprodutos animais e outros resíduos perigosos, e de melhorar significativamente os parâmetros de qualidade do ar e da água do aterro intermunicipal da ilha. “Esta estrutura permite também recuperar metais ferrosos, que estimamos na ordem de 1000 a 1200 toneladas por ano”, informa.

A Teramb calcula que a reciclagem e reutilização aumente para 4000 a 5200 toneladas por ano, “o que é significativamente superior ao que neste momento se tem alcançado”. Para cumprir as metas de reciclagem de 2020 a empresa quer apostar em medidas que passam por melhorar a recolha de recicláveis aumentando a rede de ecopontos; melhorar a tipologia de contentores de modo a evitar que haja sobre uso de alguns e que desmobilizam as pessoas de os usar; sensibilizar  empresas e particulares para a reciclagem e desenvolver um sistema de tarifário que promova a reciclagem.

O Ambiente Online também contactou a Musami, que não respondeu às questões colocadas.

Ana Santiago

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