
Médio Oriente e Norte de África interessados em replicar projecto liderado por Portugal através do LNEC
Os países do Médio Oriente e Norte de África estão interessados em replicar um projecto europeu, que está a ser liderado por Portugal através do LNEC (Laboratório Nacional de Engenharia Civil), que se destina a desenhar soluções de adaptação às alterações climáticas para o ciclo integrado da água.
A confirmação é feita ao Ambiente Online pela coordenadora do projecto, investigadora e directora do Departamento de Hidráulica e Ambiente do LNEC, Rafaela Matos. “A Jordânia, um dos países do mundo onde é maior a escassez de água, já se está a trabalhar numa possível extensão do BINGO”, revela a responsável que reitera o interesse que o projecto recém-iniciado tem gerado.
Rafaela Matos lembra que este era aliás um objectivo do projecto e por isso as soluções de adaptação podem ser aplicadas a uma gama representativa e alargada de condições climáticas, combinações de usos da água e tipologias de pressões, de norte a sul e de este a oeste da Europa.
“Os seis estudos de caso (Bergen na Noruega; the Veluwe na Holanda; Wupperberband na Alemanha, Baladona em Espanha; Troodos em Chipre e a lezíria e médio Tejo em Portugal) foram criteriosamente selecionados para cobrirem uma variedade de problemáticas incluindo inundações e secas, qualidade da água e poluição urbana, agrícola e industrial, bem como conflitos no uso da água por diferentes sectores da economia, da indústria, das cidades e turismo à agricultura e à segurança alimentar”, exemplifica a responsável.
Rafaela Matos será uma das oradoras da 10ª Expo Conferência da Água, que decorre a 11 e 12 de Novembro, no Sana Malhoa Hotel, em Lisboa, no painel intitulado “Inovar nas ideias – Investigação e desenvolvimento tecnológico com aplicação prática no mercado da água” abordando o exemplo que constitui o BINGO [Bringing INnnovation to onGOing Water Management – A better control of our future under climate change].
O projecto pretende fazer previsões de cenários climáticos a 10 anos (2015-2025), com uma resolução espacial e temporal fina, permitindo capacitar gestores e decisores para actuarem aos níveis local, regional e europeu. Está ainda prevista a aplicação de modelos hidrológicos e de qualidade da água de última geração, simulando o ciclo integrado da água nas componentes fluvial, estuarina e subterrânea, o que permitirá avaliar impactes de diferentes cenários climáticos e de pressões antropogénicas na quantidade e na qualidade dos recursos hídricos.
No final será criada uma lista de soluções de adaptação a implementar no terreno através da cooperação entre cientistas e utilizadores, comunidades de prática e laboratórios vivos, o que representa uma inovação na interligação entre ciência-utilizadores-sociedade. “Assim, temos à partida maiores garantias de que o BINGO dará resposta tanto a preocupações reais e actuais como a cenários futuros próximos, envolvendo directamente os gestores de recursos hídricos e outros interessados na consciencialização dos desafios climáticos e na resposta aos mesmos”, realça a responsável.
A sessão de lançamento do projecto decorreu em Julho, em Lisboa. O BINGO foi vencedor entre 40 consórcios europeus e corresponde à primeira liderança portuguesa no Horizonte 2020 - Desafio Societal 5 - Acção Climática. Envolve 20 parceiros europeus dos seis países e uma equipa multidisciplinar de cerca de 80 especialistas. O projecto tem disponível um montante de oito milhões de euros, dos quais cerca de dois milhões serão para Portugal. Insere-se no âmbito do Horizonte 2020 – Programa-Quadro Comunitário de Investigação & Inovação, para o período 2014-2020. Os parceiros nacionais são, além do LNEC, a EPAL, a Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo (CIMLT), a Direcção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR) e a Sociedade Portuguesa de Inovação (SPI).
Ana Santiago