Paulo Rodrigues: Recolha de Resíduos: O Cidadão
O Plano de Recuperação e Resiliência, que finalmente foi apresentada a sua versão final, viu uma alteração nas prioridades políticas e num sinal de realismo encarou um dos grandes problemas do país: A sua competitividade económica.
Este boost que se pretende para a economia e para a competitividade nacional encontrará caminho em diferentes agendas mobilizadoras para a reindustrialização e capitalização de diferentes setores e empresas.
Já se abordou a necessidade clara que o setor dos resíduos em Portugal tem de, reformular e adaptar as suas instalações de tratamento e valorização de resíduos ao que são as obrigações que os diferentes estados-membros terão nos próximos anos.
Aliás, a recente aprovação do novo Regime Geral de Gestão de Resíduos vem claramente evidenciar que os próximos anos serão exigentes e mandatórios no que concerne à separação e valorização de resíduos e que, inevitavelmente, teremos que implementar novas unidades de tratamento e adaptar e/ou reconverter as unidades existentes para dar resposta às metas impostas.
Mas nesta equação entre o que vem e o que vamos fazer com o que vem parece-me que nos esquecemos da parte mais importante: As pessoas.
É que se há setor em que as pessoas são essenciais para que realmente tudo corra como o planeado e desejado é o setor de resíduos.
Repare-se que podemos ter as melhores unidades de tratamento de resíduos, as melhores viaturas de recolha, os melhores contentores inteligentes mas, se as pessoas não participarem, então o projeto está condenado ao falhanço.
E não vale a pena julgarmos que o PAYT vai resolver. Aliás, assumir que o PAYT é a solução para o problema do país só reciclar 30% dos seus resíduos é assumir, à partida, um desinvestimento na formação e educação das pessoas.
Custa-me perceber, numa altura que nunca foi tão fácil chegar às pessoas, que não se veja em nenhum Masterplan nacional um reforço do papel do cidadão enquanto agente ativo e participativo da sociedade.
Meus caros, por muito que custe temos de aceitar que os resíduos que aparecem à volta dos contentores não é culpa dos contentores, as montureiras ilegais não são culpa da natureza ou os resíduos recicláveis presentes nos aterros não são culpa das unidades de triagem/tratamento.
Vejo neste Plano de Recuperação e Resiliência um grande impulso que vai permitir modernizar o setor dos resíduos mas, não nos esqueçamos, das pessoas.
É que, no final, são as PESSOAS QUE VÃO SEPARAR OS SEUS RESÍDUOS.
Paulo Rodrigues é Engenheiro do Ambiente formado pela ESB/UCP com Formação Avançada em Ordenamento da Cidade e Ambiente - UA e Formação Geral em Gestão para a Excelência - PBS. Com um percurso alargado na área de Gestão de Resíduos, desenvolveu e implementou Sistemas de Gestão em diferentes setores de atividade sendo de destacar o setor Residencial, Não-Residencial, sector da Construção e Demolição, Estádios de Futebol, Canal Horeca, Zonas Industriais, PAYT, Prevenção de Resíduos e Gestão de Resíduos em Eventos entre outros. É atualmente Secretário da Comissão Técnica Resíduos – CT209 e tem o registo de Inventor da Patente de Invenção Portuguesa Nº 106819 - “SISTEMA E PROCESSO DE DEPÓSITO E RECOLHA DE RESÍDUOS” COM RECURSO A IDENTIFICAÇÃO DO UTILIZADOR.