Presidente do grupo AdP demite-se por não concordar com ideias da tutela para o sector

Presidente do grupo AdP demite-se por não concordar com ideias da tutela para o sector

O presidente da Águas de Portugal (AdP), Afonso Lobato Faria, renunciou hoje ao cargo por não concordar com as ideias que a tutela tem para o grupo e que classifica como “um inútil retrocesso para a sustentabilidade do grupo e por inerência para o sector da água em Portugal”.

O ponto de discórdia pretende-se sobretudo com a denominada reestruturação do sector da água levada a cabo na anterior legislatura pelo ex-ministro do Ambiente, Jorge Moreira da Silva, e que será revertida pelo actual titular da pasta, João Pedro Matos Fernandes.

Numa carta dirigida aos administradores, a que o Ambiente Online teve acesso, Afonso Lobato Faria, explica que de momento os principais problemas do grupo estão resolvidos “pelo que o elementar bom senso” aconselhava a que esta reestruturação fosse consolidada nos próximos anos.

“Tendo em conta os bons resultados obtidos não posso de forma alguma concordar com o caminho traçado. Desfazer o que está bem feito não será certamente uma tarefa que tenha interesse em colaborar muito menos sem perceber nem as razões nem os estudos que suportam tal orientação”, lê-se na missiva.

A decisão de Afonso Lobato Faria, que entende como “a melhor forma de defender o superior interesse nacional”, produzirá efeitos no final do mês de Abril.

Afonso Lobato Faria explica que quando aceitou o convite para presidir ao Conselho de Administração da Águas de Portugal SGPS, SA, em Dezembro de 2011, estava consciente das dificuldades económico-financeiras porque passava na altura o grupo.

A razão principal para os desequilíbrios existentes residia nos chamados sistemas multimunicipais de segunda geração, que se situam essencialmente no interior do país, cuja baixa densidade populacional obrigava a que as tarifas praticadas no segmento em alta fossem consideravelmente superiores aos valores existentes nos sistemas de primeira geração, que se situam maioritariamente no populoso litoral.

“As elevadas tarifas praticadas nos sistemas de segunda geração geravam um ciclo vicioso que continha igualmente elevados défices tarifários, avultadas dívidas de clientes municipais, sistemas em falência técnica e finalmente uma tesouraria muito débil que obrigava ao congelamento de importantes investimentos que ainda faltavam realizar”, sublinha lembrando que o Tribunal de Contas aconselhou várias vezes a que o grupo fosse reestruturado para assegurar a sustentabilidade económico-financeira.

O presidente cessante diz que a reestruturação, que agora vai ser revertida nos casos que os municípios assim entenderem, foi decidida após “inúmeras interações quer com a Águas de Portugal quer com os municípios envolvidos” e consistia, entre outros aspectos, na agregação dos sistemas multimunicipais de primeira geração com os de segunda geração criando uma tarifa única para os novos sistemas agregados.

“Concordei totalmente com a solução apresentada e não estava enganado. As dívidas dos clientes municipais que cresceram no ano de 2012 em cerca de 120 milhões de euros após a criação das novas empresas diminuíram mais de 40 milhões de euros, permitindo que as empresas tenham uma tesouraria saudável podendo realizar os investimentos em falta”, realça.

A reestruturação empresarial permitiu, segundo Afonso Lobato Faria, iniciar o processo de resolução para o grave problema do défice tarifário. “Prova disso mesmo é o facto dos desvios tarifários em 2011 no universo das empresas agregadas terem atingido o valor de 82 milhões de euros estimando-se que o valor desça para 27 milhões de euros em 2016. Este valor é inferior em 60 milhões de euros ao previsto inicialmente. Os custos reais estão a ser ainda mais baixos do que os previstos o que indica que as tarifas futuras deverão ser inferiores aos valores inicialmente previstos”, prevê.

A dívida do Grupo AdP, que no ano de 2012 se cifrava em 3,096 mil milhões de euros, situava-se no final de 2015 em 2,414 mil milhões de euros, ou seja, houve uma redução de 682 milhões de euros, o que representa uma diminuição de 22% do valor inicial, argumenta.

Com a reestruturação a iniquidade tarifária ficou praticamente resolvida já que num período de cinco anos a diferença entre as tarifas de água e saneamento se irão situar numa banda de 11 por cento contrastando com o que existia antes da reestruturação em que as tarifas necessárias dos sistemas de segunda geração chegavam a ser mais do dobro das tarifas necessárias dos de primeira geração.

  

“O Grupo Águas de Portugal, com os profissionais de eleição que o constituem, continuará a ser, independentemente das orientações emanadas pela tutela setorial, o pilar essencial do elevado prestígio que Portugal tem granjeado a nível internacional no sector da água”, conclui.

Ana Santiago

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