Baixo nível da água em Castelo do Bode gera preocupação entre empresários, agricultores e ambientalistas

Baixo nível da água em Castelo do Bode gera preocupação entre empresários, agricultores e ambientalistas

Os baixos níveis de água na Albufeira do Castelo do Bode estão a ser motivo de preocupação para Ambientalistas, agricultores e empresários turísticos.

A Agência Portuguesa do Ambiente (APA) confirmou à Lusa que, efetivamente, os respetivos níveis da água estão abaixo da média, garantindo, no entanto, não existir “qualquer risco de garantia no abastecimento público”, que, assegurou, “é prioritário”. “Os níveis na Albufeira do Castelo do Bode estão abaixo da média devido ao facto de, no presente ano hidrológico, não ter ainda ocorrido precipitação significativa que permita repor os níveis de armazenamento após o verão”, informou a APA. A APA afirma estar “a acompanhar a situação” com os principais utilizadores no sentido de “promover um uso mais eficiente da água e a garantir a reserva de segurança” para o abastecimento público.

No entanto, os baixos níveis de água estão a inquietar vários setores, que atribuem a situação à pouca chuva e à descarga das barragens para produção de energia.

“Não é só pela seca, mas também porque a água está a ser turbinada”, explicou à Lusa o presidente da Associação dos Empresários de Turismo do Castelo do Bode (AETCB), tendo criticado a “falta de informação” e afirmado “não perceber por que motivo a EDP ou quem gere a barragem está a deixar ficar um nível tão baixo que prejudica claramente a atividade turística” e as atividades náuticas.

Segundo Jorge Rodrigues, “a quota de água de Castelo do Bode está num nível extraordinariamente baixo” e, “a continuar assim”, os operadores turísticos podem ficar com as suas “atividades comprometidas” para a época de verão.

Afirmando estar preocupado com os impactos na fauna, flora e biodiversidade ribeirinha, Paulo Constantino, do Movimento pelo Tejo – proTEJO, defendeu a importância da “preservação e salvaguarda dos ecossistemas para criar, regenerar, purificar, criar e reter água”, tendo relacionado a atual situação com as “alterações climáticas e redução dos níveis de precipitação, a par das descargas das hidroelétricas”, portuguesas e espanholas.

“Um dos problemas é que, efetivamente, as hidrelétricas não olham a meios para maximizar os seus lucros e vão debitando água ao seu ritmo”, afirmou Paulo Constantino, tendo feito notar que, “se tivessem sido mantidas mais reservas, com certeza que se conseguiria fazer face a anos hidrológicos em que exista menos precipitação e, portanto, equilibrar e permitir ter água de forma estratégica nas alturas em que ela é necessária”.

Questionada se confirma, neste cenário de seca meteorológica, as descargas da EDP para produção de energia, a APA disse que “a situação está a ser acompanhada pela APA, Direção-Geral de Energia e Geologia, REN - Redes Energéticas Nacionais e produtores de energia hidroelétrica”.

Um responsável Associação de Agricultores de Abrantes, Constância, Sardoal e Mação, no distrito de Santarém, disse à Lusa que a falta de chuva “pode pôr em causa as culturas de outono/inverno, nomeadamente os trigos, as aveias e as cevadas” e “também as pastagens que alimentam o gado, começando a haver problemas com falta de alimento” para os animais.

“O setor hortícola é aquele que mais depende da água e está a regar as culturas nesta altura, o que não é costume”, notou Luís Damas, tendo alertado que, “a continuar assim, a situação ficará crítica em março ou abril, quando a água começar a faltar, sendo que o problema se coloca também a longo prazo, pois são quase inexistentes os sistemas de regadio que forneçam e distribuam água” pelas explorações.

De acordo com o IPMA cerca de 85% do território no final de dezembro estava em seca meteorológica. A avaliação hidrológica que semanalmente é realizada ilustra que os armazenamentos nas albufeiras a nível nacional estão abaixo da média exceto nas bacias do Douro, Vouga, Guadiana e Arade.

Tendo em conta as preocupações de agricultores, ambientalistas e empresários turísticos de Castelo do Bode, a APA, que diz ter já “programada uma reunião da Comissão de Gestão de Albufeiras”, entende ser preciso “realizar uma gestão que permita garantir os usos prioritários e a manutenção dos ecossistemas aquáticos na albufeira e a jusante”, tendo destacado a necessidade de “aumentar a eficiência e a poupança” da água.

“Os efeitos das alterações climáticas fazem-se sentir cada vez com maior intensidade e, como se verifica, não basta construir barragens, é preciso que estas encham pelo que a aposta tem de ser sobretudo na eficiência, na utilização de águas para reutilização, diminuindo os volumes de água natural captados”, conclui.

A Albufeira de Castelo de Bode, no distrito de Santarém, estende-se ao longo de 60 quilómetros, atravessa os concelhos de Abrantes, Ferreira do Zêzere, Figueiró dos Vinhos, Sardoal, Sertã, Tomar e Vila de Rei e abastece uma vasta região até Lisboa, abrangendo cerca de três milhões de consumidores.

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