
Cláudio Monteiro (FEUP): “Autoconsumo é a mais valiosa das energias renováveis”
O professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), Claúdio Monteiro, defende que o autoconsumo é “a mais valiosa” das energias renováveis. “É esquecida porque está no consumidor e nas PME que normalmente não estão ao nível dos processos de decisão. É aquela que gera mais emprego, que melhor utiliza os nossos recursos empresariais nacionais e reduz mais as perdas”, descreve o docente.
Cláudio Monteiro, um dos intervenientes da sessão sobre o Compromisso para o Crescimento Verde dedicada à energia, que se realizou hoje no Porto, considera no entanto que a meta prevista no documento para esta componente – 300 MW em 2020 - não é suficientemente ambiciosa.
“Sendo esta a melhor forma de energia renovável porquê só 300 MW? É preciso ter coragem e assumi-lo. É esta a oportunidade do consumidor. Não podemos ficar chateados se o consumidor aposta no autoconsumo em vez de ir buscar energia à rede”, revela.
A culpa é do sistema que foi criado e que só consegue levar electricidade ao consumidor a 200 euros MW/hora. "No meu telhado instalo um sistema fotovoltaico que produz a 150 euros MW/hora. Alguma coisa não funcionou bem nestes últimos anos e não foi a engenharia porque a nossa é a melhor que há”, critica.
Cláudio Monteiro felicita o Governo pela legislação recente na matéria que considera “favorável, flexível e aberta”. O docente realça o facto de não existir limite tendo em conta que esta opção “não traz custos adicionais para o sistema pelo que é a mais nobre das renováveis” sendo preferível à grande fotovoltaica. “Não devem ter medo de impulsionar autoconsumo. É por aqui que se deve ir”, realça.
No que diz respeito à meta de produção renovável no consumo final de energia de 31 por cento em 2020 (60 por cento na electricidade), que consta igualmente do Compromisso para o Crescimento Verde, o responsável considera-a razoável, mas lembra que a dificuldade estará no escoamento desta energia. “Estamos a atingir limites de saturação, a partir dos quais será difícil sustentarmos o sistema. A solução pode ser alterar os vectores energéticos para a electricidade e aí estaremos a falar de veículos eléctricos e bombas de calor”, ilustra.
O professor é a favor do aumento das interligações na medida em que optimizam o sistema, mas lembra que mais do que exportar electricidade é preciso exportar o valor ambiental associado às renováveis. “A nossa electricidade vale muito mais do que a electricidade nuclear dos franceses. Mas existem compradores do outro lado da fronteira que estejam dispostos a pagar o valor que queremos por esta electricidade? Essa é a questão. Só assim vamos exportar. Ninguém gosta de vender a um custo inferior àquele que produz”, alerta.
Ana Santiago