Colunista Hernâni Theias (Água-Tendências): Água digital - A revolução em curso
Água Digital
A revolução em curso
A adopção de tecnologias digitais na indústria da água é um processo antigo que tem vindo a acelerar-se nos últimos anos acompanhando um movimento transversal a todos os setores da indústria, fortemente impulsado pelas economias emergentes.
O número de patentes referentes a “gestão de redes de abastecimento” cresceu 1983% entre 2007 e 2017, provindo tanto de empresas como de universidades ou centros tecnológicos, tendo origem, na sua grande maioria, na China. O que demonstra que hoje a inovação é digital.
Essa inovação responde a exigências imediatas da prestação dos serviços tais como qualidade da água, continuidade e resiliência, redução de descargas não controladas, tarifas justas e transparência, ao mesmo tempo que procura proporcionar uma distribuição óptima dos recursos, sejam materiais, humanos ou financeiros.
Os serviços tradicionais de gestão dos recursos hídricos podem e devem ser aperfeiçoados à luz das possibilidades que abrem a profusão de dados acessíveis e o aumento das capacidades de processamento dos mesmos para a toma de decisão tanto por parte de um operador como de um autómato: sistemas de alerta precoce, manutenção preditiva, modelos operacionais de tempo real, reconfiguração dos sistemas e muitas outras aplicações.
É inconcebível acharmos que podemos operar uma infraestrutura que cobre milhares de hectares, interfere com a vida de milhões de cidadãos e está em grande parte enterrada, baseando-nos apenas no conhecimento de uns poucos e muito esforçados operários já perto da idade da reforma e obrigados a deslocar-se ao local para fechar uma válvula muito depois de terem recebido a notificação.
A digitalização permite não só que esse conhecimento fique consignado num repositório comum e proporciona uma visão holística dos sistemas, dando espaço para mais automação e melhorando a prevenção e eficiência das intervenções, por exemplo reduzindo as deslocações no terreno e consequentemente a ocorrência de acidentes.
Por outra parte, o processo de transformação digital é igualmente uma iniciativa estruturante, uma oportunidade única de rever processos organizativos e fomentar uma cultura de trabalho mais dinâmica e transversal, centrada na inovação.
Ao mesmo tempo, a digitalização coloca desafios importantes que são a outra cara dos benefícios levantados antes: curva de aprendizagem, escassez de profissionais, choque com a cultura empresarial, falta de visibilidade ou de linhas de crédito para a digitalização, segurança informática...
Apesar destes, a digitalização do setor da água está em curso, e é tão inevitável quanto indispensável.
Hernâni Theias é engenheiro civil de formação e está dedicado desde sempre à área da água e saneamento. Colabora em projetos em quatro continentes. Atualmente é director de desenvolvimento de negócios na Suez e é responsável pela divisão global de serviços para redes.