
Manifesto em defesa do rio Ferreira quer solução definitiva para problema ambiental
Dois movimentos de cidadãos lançaram esta quinta-feira online o Manifesto "Justiça pelo Rio Ferreira”, apelando à participação cívica dos cidadãos para dar voz à causa e exigir a resolução do problema ambiental da ETAR de Arreigada, em Paços de Ferreira.
Com este documento, explicou Nadine Gonçalves, do ‘Mataram o Rio Ferreira’, os dois movimentos esperam voltar a chamar a atenção das entidades nacionais e europeias para o problema ambiental, mas também da população, desafiando-as a subscrever o documento e dar mais visibilidade a uma luta com duas décadas.
“O Rio Ferreira está sem vida. Juntos, temos de parar com esta tortura ambiental! Trata-se de um problema de saúde pública!”, lê-se no manifesto conjunto dos movimentos - #MovRioDouro e Mataram o Rio Ferreira, lançado esta quinta-feira.
Os dois movimentos questionam os sucessivos investimentos públicos na Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Arreigada, como a intervenção de ampliação e requalificação já levada a cabo, que agravou a situação, pese embora o investimento de 5,1 milhões de euros investidos na infraestrutura.
“A situação intensificou muito mais após a requalificação da ETAR que ficou a tratar menos do que antes. O rio está constantemente a ser agredido com material orgânico e resíduos. Está um estado deplorável”, lamentou, sublinhando que este “atentado ambiental” é também um “grave” problema de saúde pública.
A requalificação da estação de tratamento da Arreigada visava, precisamente, o aumento da capacidade de tratamento, mas a ETAR está a tratar apenas entre “10 e 15%” dos resíduos, denunciam os dois movimentos no manifesto.
“Desde 2019 que os resíduos não têm tratamento, as pessoas continuam a pagar saneamento e temos o rio neste estado. É muito crítico. É mais um verão nessas condições. Ainda para mais, com a seca, há momentos em que o caudal do efluente rejeitado da ETAR é maior que o caudal do rio”, detalhou.
Os movimentos questionam ainda o investimento de 1,8 milhões de euros da Câmara de Paredes, concelho também afetado pelo mau funcionamento da ETAR, para recuperação e limpeza do rio, numa altura em que a infraestrutura não está a funcionar corretamente.
A este investimento da autarquia de Paredes, que à semelhança do projeto de requalificação de que a ETAR de Arreigada já foi alvo foi financiado por programas de apoio, juntam-se mais “15 milhões para ‘reparação’ da estação e cerca de 700 mil euros para uma solução provisória”.
Em abril, e de acordo com o jornal ‘Verdadeiro Olhar’, o presidente da Câmara de Paredes, Alexandre Almeida, anunciou, numa reunião da autarquia, a instalação de uma ETAR provisória para minimizar os problemas da atual durante a construção da nova ampliação que tem já financiamento assegurado através do Norte 2030.
A ETAR de Arreigada drena os efluentes para o rio Ferreira, linha de água que evolui para o vizinho concelho de Paredes, na zona de Lordelo, onde a poluição é observada há mais de duas décadas.
“Quando começarem as obras, vamos sofrer intensamente com isto, estamos a prever muitos anos de sofrimento até à resolução desta situação. É incompreensível como é que permitem uma coisa desta”, declarou, defendendo uma solução transitória onde a ETAR de Arreigada se mantém em funcionamento enquanto uma nova infraestrutura é construída.
Ainda segundo Nadine Gonçalves, o problema ambiental da ETAR da Arreigada, alvo de denuncias às autoridades nacionais e europeias, está a ser analisado pela Comissão Europeia que já recebeu resposta do Estado português, depois de o ter notificado formalmente, em julho de 2022, para o incumprimento da legislação europeia para o tratamento de águas residuais.
Classificando o rio Ferreira, outrora, “um dos maiores rios truteiros”, como uma “fossa a céu aberto”, os dois movimentos exigem que as Águas de Paços de Ferreira, a câmara daquele concelho, a Agência Portuguesa do Ambiente e o próprio ministério assumam as suas responsabilidades e que “os infratores sejam penalizados”.
Em sua defesa, os dois movimentos vão ainda promover, no dia 17 de junho pelas 15:00, uma manifestação que começa em Lordelo e que vai em marcha lenta até à ETAR de Arreigada em Paços de Ferreira, para exigir justiça pelo rio Ferreira.