Alterações climáticas podem interferir no ciclo químico dos oceanos
O aumento da temperatura do oceano provoca alterações nos ciclos globais de dióxido de carbono, azoto e fósforo, com impactos directos no “plâncton”, modificando as suas necessidades de nutrientes. A conclusão consta de um estudo que teve a participação de um investigador do Centro de Ciências do Mar (Ccmar), da Universidade do Algarve.
A descoberta da equipa que integra Gareth Pearson, do Ccmar, foi publicada na revista Natute Climate Change. Segundo um comunicado da Universidade do Algarve, o estudo revela que “a temperatura da água tem um impacto directo no ‘plâncton’ dos oceanos, modificando as suas necessidades de nutrientes e provocando assim alterações nos ciclos globais de nutrientes.” O papel importante do “plâncton” no ciclo de carbono deve-se à remoção de metade do CO2 (principal gás responsável pelo efeito de estufa) da atmosfera durante a fotossíntese, armazenando-o no fundo do mar, onde fica isolado durante séculos.
A investigação, acrescenta a nota da Universidade do Algarve, “mostra que o aquecimento dos oceanos irá afectar a utilização de recursos pelo ‘plâncton’, o que, por sua vez, terá consequências nos ciclos biogeoquímicos do planeta, levando a um ciclo vicioso nas alterações climáticas.” A pesquisa foi levada a cabo por uma equipa multidisciplinar, que integra cientistas da Escola de Ciências Ambientais e da Escola de Ciências da Computação da University of East Anglia (UEA).
Os investigadores focaram a sua atenção no fitoplâncton -- organismos microscópicos semelhantes a plantas que dependem da fotossíntese para se reproduzir e crescer. Este composto de micro-algas é responsável pela remoção de metade do dióxido de carbono da atmosfera. Thomas Mock, investigador da UEA, explica que o fitoplâncton, “tal como é vital para o controlo do clima, também cria oxigénio suficiente para a nossa respiração, e forma a base da cadeia alimentar para a pesca, por isso é extremamente importante para a segurança alimentar.”
O estudo conclui que a temperatura desempenha um papel fundamental no balanço químico do fitoplâncton, fazendo com que necessite “de mais azoto relativamente a fósforo, porque funcionam com menos ribossomas.” A limitação do desenvolvimento do fitoplâncton, através da disponibilidade de azoto, reduzirá a sua capacidade de remover CO2 da atmosfera.
Os cientistas desenvolveram um modelo computacional que criou um ecossistema global, levando em conta as temperaturas globais do oceano e, entre outros dados bioquímicos, 1,5 milhões de sequências de DNA de “plâncton”. O artigo “The impact of temperature on marine phytoplankton resource allocation and metabolismo”, que contou com a colaboração de outras instituições, foi desenvolvido por Gareth Pearson no Ccmar, com financiamento do projecto Arctic Tipping Points, do sétimo Programa Quadro da União Europeia.