
Certificação energética dos edifícios pode dinamizar mercado
A nova legislação que determina que, a partir de 1 de Julho, todos os edifícios com mais de mil metros quadrados sejam acompanhados, obrigatoriamente, por um certificado de eficiência energética para que possam ser licenciados, pode abrir uma janela de oportunidades para as empresas nacionais.
«O impacto desta obrigatoriedade na actividade do tecido empresarial vai ser grande, nomeadamente para empresas como a Vulcano, que é fabricante de equipamentos para produção de água quente», refere André Cruz, responsável pelo acompanhamento de projectos de engenharia e arquitectura na companhia.
Inserida no grupo Bosch, a gama comercializada pela empresa vinha sobretudo da Alemanha. Mas a Vulcano investiu 12 milhões de euros numa fábrica, em Aveiro, que terá capacidade para fabricar 150 mil painéis solares por ano. «A maior parte da produção será para exportação, mas também se destina ao mercado nacional», refere André Cruz, salientando que, no futuro, esta área representará um volume cada vez maior nos negócios da empresa.
A obrigatoriedade de integração de sistemas de energias renováveis nos novos edifícios é um dos motivos que leva Filipe Bello Morais, responsável pela Sotecnisol Energia, a considerar a nova legislação «arrojada». Contudo, ressalva, «apesar de estar em vigor desde 1 de Julho de 2006, muitos projectos de novos edifícios que deram entrada nas autarquias não cumpriram o regulamento, nomeadamente na vertente do solar térmico».
«Só excepcionalmente tem-se feito cumprir a legislação. Veremos que desenvolvimentos decorrerão da entrada em vigor, no próximo dia 1 de Julho, da obrigatoriedade da certificação energética». A partir desta data, a apreciação dos projectos na fase de licenciamento será acompanhada por uma apreciação de peritos. Com efeito, «existe aqui um nicho de mercado para as empresas de formação», refere Aline Delgado, da Quercus. No entanto, para a responsável «é indispensável que estes profissionais possam ter também algum papel durante a obra, o que não acontece actualmente». É que, por exemplo, o isolamento de uma parede só se vê durante a empreitada, especifica.
Um potencial bloqueio ao desenvolvimento do mercado prende-se com o facto de não haver ao nível da habitação os incentivos suficientes para incentivar as pessoas a optarem, por exemplo, por painéis solares, aponta Bello Morais. Não obstante, o responsável acredita que a nova regulamentação para os edifícios vai dinamizar muito o mercado». No caso do fotovoltaico, afirma, «a nova remuneração aprovada recentemente é bastante interessante, sobretudo, para centrais até 5 kWp». Para Filipe Bello Morais, «as condições estão criadas, mas é preciso abrir caminho para a ligação à rede para que o investimento no solar fotovoltaico se torne mais atractivo». A Sotecnisol tem actualmente em adjudicação cerca de 500 kW em fotovoltaico e ao nível do solar térmico 300 a 400 m2 de instalações a realizar. «Neste ano, devemos investir 500 mil euros em centrais fotovoltaicas financiadas por nós e o volume de negócios no térmico deverá rondar os 500 a 600 mil euros», anuncia.
Para as questões de eficiência energética, também a Ecochoice, empresa que fornece serviços na área da construção sustentável, tem ao dispor dos seus clientes um conjunto de soluções que passam pelo apoio directo ao projecto de arquitectura, desenvolvendo medidas bioclimáticas específicas para o local e tipologia de edifício em causa, e também pelo dimensionamento de sistemas de produção de energia descentralizada, incluindo cogeração e microgeração com recurso a energias renováveis.
Segundo Isabel Santos, administradora-executiva da Ecochoice, «as novas regulamentações energéticas para edifícios poderão funcionar como um ponto de viragem para todas as empresas envolvidas no sector da construção». Os edifícios construídos em Portugal caracterizam-se por serem muito intensivos em termos de consumo de energia e, no entanto, bastante desconfortáveis para os seus utilizadores. Através dos novos regulamentos, esta será uma realidade a alterar. «As empresas terão de se modernizar e os processos construtivos devem ter em conta este factores. Terão de surgir novas formas de projectar edifícios, ser aplicados novos materiais e desenvolvidas tecnologias energéticas com base em fontes renováveis que satisfaçam total ou parcialmente as necessidades de energia do edifício», acrescenta.