
ambiente
Cluster do carro eléctrico mais perto com novo programa do Governo
Depois de o Governo
ter apresentado, a 29 de Junho, a Mobi-e, uma rede piloto para abastecimento de
veículos eléctricos (VE), o País deu mais um passo no sentido da “revolução” da
mobilidade eléctrica. O Programa para a Mobilidade Eléctrica, que envolve 21
cidades na criação de uma rede nacional para o carregamento destes veículos,
vai colocar Portugal «no grupo da frente dos países que querem liderar a
mudança», garante José Sócrates. Para isso, o envolvimento das empresas
nacionais na criação de sinergias e de um cluster industrial nesta área é
fundamental.
Até 2010, o Governo
quer ter a funcionar 320 locais de abastecimento de carros eléctricos, chegando
aos 1300 em dois anos. Guarda, Faro, Braga, Viana do Castelo, Guimarães,
Sintra, Évora, Castelo Branco, Loures, Porto, Lisboa, Almada, Leiria, Coimbra,
Setúbal, Beja, Aveiro, Torres Vedras, Santarém, Cascais e Gaia são os
municípios envolvidos no programa. Os postos de carregamento vão ser instalados
em parques de estacionamento públicos, centros comerciais, bombas de gasolina,
hotéis, aeroportos, garagens particulares e vias públicas.
EDP disponível para
integrar cluster
A EDP, que tem já em
curso projectos de avaliação da potencialidade da massificação dos veículos
eléctricos – como o “Grid for Vehicle”, no qual participam a RWE, EDF,
Endesa, Enel, Vatenfall e algumas universidades – está «disposta» a fazer parte
do cluster do automóvel eléctrico em Portugal, garante o presidente
executivo da EDP ao AmbienteOnline. António
Mexia está convicto de que estes veículos serão uma realidade em 2011,
alicerçada nos acordos já assinados entre o Governo e a Renault-Nissan para a
instalação de uma fábrica de baterias de iões de lítio no País.
Também Pedro Silva,
administrador da Efacec Sistemas Electrónicos, reconhece na indústria
portuguesa «competências para conceber, produzir e instalar toda a infra-estrutura
de abastecimento ou de troca de baterias, e até de exportar esse know how». No cluster
do carro eléctrico poderão entrar também empresas que fabriquem baterias e
outros componentes, isto «se Portugal for um dos primeiros países a ter
condições para a comercialização dos veículos», ressalva Pedro Silva. E
acrescenta: «As empresas, já existentes e novas, da fileira automóvel terão
também uma oportunidade, caso o país se consiga tornar atractivo para a
montagem de automóveis eléctricos».
O responsável da
Efacec refere ainda a possibilidade de conversão de veículos a combustão em
eléctricos, mercado que está a desenvolver-se nos Estados Unidos, e para o qual
há empresas portuguesas capazes de desenvolver essa actividade, assegura.
Comportamento dos
consumidores é parte do problema
Mas nem só do empenho
das empresas depende o desenvolvimento do carro eléctrico em Portugal. «É
preciso também uma ligação mais próxima, mais focada e menos dispersa, entre as
universidades, os centros de investigação e a indústria», vaticina António
Mexia. Para além disso, o presidente executivo da EDP identifica também um
problema de «comportamentos». «Como é que garanto que, enquanto houver poucos
carros eléctricos, os outros automobilistas não estacionam nos poucos lugares
reservados a esses veículos?», questiona.
De igual modo, Robert
Stussi, presidente da Associação Portuguesa do Veículo Eléctrico, confirma que
«há um grande trabalho a desenvolver» junto dos consumidores, que mostram ainda
reservas em relação aos condicionalismos dos veículos, nomeadamente em relação
à necessidade de se ter de recarregar as baterias e estar atento à autonomia do
veículo.
Mas a principal
questão que tem de ser resolvida antes da criação do cluster é a relação carro-bateria, nomeadamente o tipo de
enchimento da bateria – rápido ou lento. No caso da Mobi-e, os consumidores
terão à disposição pontos de carregamento lento – com duração de 6 a 8 horas, que permite o
aproveitamento da energia eólica produzida durante a noite, e pontos de
carregamento rápido - 20 a
30 minutos, para carregamentos feitos durante o dia.
Para além disso, há
que resolver a questão relacionada com o preço das baterias, o qual, na opinião
de Pedro Silva, «deve baixar consideravelmente durante a próxima década, à
medida que se ganha escala e que novos desenvolvimentos tecnológicos o
permitem». «A questão da regulamentação, e incentivos fiscais e de outros
tipos, é também uma das componentes essenciais de promoção da mobilidade
eléctrica», salienta o porta-voz da Efacec.