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Telecontagem para todos ainda distante de Portugal
A passagem do analógico ao digital
tem sido a evolução natural de todas as tecnologias. E a medição e facturação
da electricidade não é excepção, sendo a adopção de contadores eléctricos
inteligentes – a chamada telecontagem – o próximo passo. Há um número crescente
de países europeus a trabalhar para a adopção destes equipamentos, que são uma
oportunidade de negócio atraente. Mas a sua universalização ainda está
distante.
De acordo com Pedro Sampaio Nunes,
promotor do Sistema Universal Independente de Telecontagem (SUIT), em termos do
valor do equipamento a instalar este é um mercado que vale cerca de 800 milhões
de euros em Portugal, 3,6 mil milhões em Espanha e 32 mil milhões na União
Europeia.
Em relação às poupanças anuais
conseguidas após o investimento, poderemos estar a falar de um mercado da ordem
de 600 milhões de euros anuais em Portugal, 2,5 mil milhões em território
espanhol e cerca de 20 mil milhões no espaço comunitário. Ou seja, «é um
investimento que se recupera em pouco mais de um ano, pelo que não se deveria
perder tempo a implantar esta solução», conclui.
Primeiros passos na telecontagem
Desde 2005 que os clientes da EDP de
média, alta e muito alta tensão já dispõem de telecontagem. Já no final de
2007, o País voltou a avançar nesta matéria, quando o Governo encomendou
à Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) um estudo sobre as
funcionalidades mínimas e sobre o plano de substituição dos contadores de
energia eléctrica, no âmbito do acordo assinado, meses antes, com o seu
homólogo espanhol para a harmonização do Mercado Ibérico de Electricidade
(Mibel).
Os resultados do estudo propunham a
substituição dos contadores por novos aparelhos com telecontagem, num custo total
superior a mil milhões de euros, cerca de 169 euros por contador. O valor seria pago pelos consumidores de
electricidade durante 20 anos, através da tarifa, implicando um agravamento
mensal de 3 por cento no custo da electricidade, que, nos anos mais
significativos, entre 2015 e 2019, poderia representar um aumento médio na casa
dos 9 por cento, para um consumidor doméstico médio. Pela calendarização da
ERSE a proposta teria de estar aprovada no curto prazo, para se iniciar o
projecto-piloto em Julho de 2008 e a substituição dos contadores a partir de
2010, mas o então ministro da Economia e Inovação, Manuel Pinho, anunciou que,
com estes preços, a telecontagem não avançaria em Portugal, até porque, disse,
não compromete o desenvolvimento do Mibel.
Rejeição da proposta da ERSE suscita
críticas
Esta
foi uma decisão do Governo que não mereceu a concordância do sector. Na opinião
de Pedro Sampaio Nunes, o Executivo deveria ter aceite a proposta da ERSE. Para
o responsável, o projecto representava mesmo «uma liderança do processo em
termos internacionais», mas, lamenta, «o Estado optou entre a sua posição de
defensor dos direitos e dos interesses dos consumidores em geral e a sua
posição de accionista das empresas incumbentes que dominam esse mercado, que,
neste caso, têm menos interesse em que se instale um sistema que introduza mais
transparência, eficiência e concorrência».
Também
para a ISA, uma das empresas com soluções na área da telecontagem, a proposta
da ERSE deveria ter ido avante. «A substituição de todos os contadores por
telecontadores é dos poucos investimentos com retorno garantido a curto prazo,
trazendo grandes benefícios para os consumidores e para o País», afirma
Catarina Fonseca, directora de marketing e comunicação da empresa. Ainda mais
favorável, acrescenta, é a opção pela telecontagem multi-utility, com a
possibilidade de optimizar os custos com as infra-estruturas de comunicação,
que passam a ser divididos pelas três utilities (electricidade, água e gás).
Esta
solução, explica, «proporciona informação ao consumidor trazendo
inevitavelmente mudanças de comportamentos». Esta é uma das razões que leva a
Janz a defender também que «é imperioso começar o projecto de substituição [dos
contadores]. Falta definir em concreto de que forma (recursos) e com que
soluções técnicas», aponta Adriano Mendes, gestor de marketing da empresa.
Benefícios
da telecontagem
Com
a telecontagem, o cliente pode conhecer o seu perfil de consumo de energia com discriminação horária
através do site da eléctrica, podendo escolher qual a tarifa mais adequada ao
seu caso, ter diversa informação disponível no próprio contador e passar a ser
facturado com base em leituras reais recolhidas remotamente. Acabam, assim, as
visitas para leitura dos contadores, as cobranças por estimativas e os erros na
facturação.
A
disponibilização de informação ao consumidor pode mesmo diminuir os consumos em
cerca de 15 por cento. Para além dos benefícios ambientais, através das
reduções de carbono, permite poupanças económicas muito consideráveis. Com um
contador inteligente, o consumidor pode ter um papel activo na gestão da
energia de que necessita, nomeadamente na redução do consumo em períodos de
ponta, quando a energia aumenta significativamente de preço.
Essa
redução pode ser feita por controlo remoto pelos fornecedores, se o consumidor
assim o quiser, desligando diversos electrodomésticos, por exemplo. Por outro
lado, quem opte por equipamentos de microgeração, só pode vendê-la à rede se
usar um contador inteligente. Para alem de ser um poderoso meio de melhorar a
eficiência energética é também um instrumento de maior transparência e de
concorrência no mercado, dando aos consumidores a informação que lhes dá uma
capacidade efectiva de escolha do seu fornecedor, agilizando a mudança.
Para
além disso, acrescenta Catarina Fonseca, esta opção colocaria Portugal na
vanguarda da telecontagem, tornando-o um “living lab” que colocaria em acção
mais tecnologia portuguesa, criando emprego e potenciando exportações para
outros países. A opinião é partilhada por Sampaio Nunes, para quem as
mais-valias desta solução serão enormes, tanto para os consumidores, como para
operadores e industria nacional, «se o atraso que o processo tem sofrido não
vier a ter como consequência a perda da liderança do processo tecnológico e da
oportunidade de mercado».
A telecontagem em
Portugal
A EDP desenvolve projectos de telecontagem desde 1990. Em
1999 foram instaladas estruturas de telecontagem industrial nos centros
comerciais Colombo e Norteshoping, no Mercado Abastecedor da Região de Lisboa,
e em Ourique, no Alentejo. Desde 2003 que os principais clientes da EDP, perto
de 23 mil, operam em sistema de telecontagem, com contadores electrónicos topo
de gama, sistemas de comunicação e recolha/processamento de dados avançados.
Em Setembro de 2006, a EDP lançou um
projecto com 140 clientes residenciais, em Lisboa e no Porto. Uma das intenções deste projecto é
avaliar o grau de adesão dos clientes a esta nova tecnologia, nomeadamente a
forma como aproveitam a informação a que passam a ter acesso para
racionalizarem o consumo de energia eléctrica. No mesmo ano, em Abril, a
Cooperativa Eléctrica de Vilarinho e a Cooperativa Eléctrica de Roriz, ambas no
concelho de Santo Tirso, adoptaram contadores externos inteligentes, cobrindo
os cerca de 3 600 consumidores, colocando as duas ladeias do Norte do País na
vanguarda da telecontagem.