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José Archer: «A qualidade da areia melhora com a época balnear»
Em plena época balnear, o presidente da Associação Bandeira Azul da Europa (ABAE), José Archer, destaca a evolução das praias portuguesas, e especialmente das praias fluviais, nos últimos anos. O responsável sublinha a importância de introduzir o critério da qualidade da areia na atribuição da bandeira azul e lembra ainda que é com a época balnear que a qualidade do areal regista um melhor desempenho.
Como avalia a evolução da qualidade das praias portuguesas, nestes últimos anos?
Trata-se de uma evolução bastante positiva e penso que os números falam por si. Este ano, por exemplo, foram atribuídas bandeiras azuis a 240 praias portuguesas, mais 14 do que em 2009. É preciso, no entanto, separar dois aspectos. Por um lado, a evolução da qualidade da água, que se deve à resolução de vários problemas que afectavam directamente o mar. Falo, a esse respeito, dos problemas de saneamento que têm sido progressivamente resolvidos. Por outro lado, há que salientar a evolução da qualidade no seu geral, que se traduz em melhores infra-estruturas na zona de praia.
Estamos a falar de grandes investimentos nas praias. A quem se deve esta melhoria?
Este foi um investimento conjunto, até porque grande parte da evolução se deve à implementação dos Planos de Ordenamento das Orlas Costeiras (POOC). No entanto, há que referir que o principal trabalho é das autarquias, até porque lhes cabe o trabalho inicial de criar as infra-estruturas e, numa fase posterior, de garantir a sua manutenção ao longo do tempo.
Um dos objectivos da secção portuguesa da ABAE é ver incluída a qualidade da areia como critério para atribuição da bandeira azul. Como está a correr esse processo?
Este é um projecto desenvolvido por nós e pioneiro a nível mundial. Através de uma parceria com o laboratório do Instituto Ricardo Jorge e a Agência Portuguesa do Ambiente, desenvolvemos uma metodologia, com base em parâmetros microbiológicos e fisico-químicos, que permite avaliar a qualidade da areia. Já apresentámos a metodologia por diversas vezes aos nossos congéneres internacionais, e a sua aplicação como critério para a atribuição da bandeira azul está a ser estudada. Estamos também abertos à possibilidade de adaptação da metodologia, já que a escolha de parâmetros científicos, em detrimento de outros, pode ser passível de discussão. Claro que temos expectativas de que este critério venha a ser utilizado na atribuição da bandeira azul. Caso seja adoptado, o critério começará por ser apenas indicativo e, passados quatro ou cinco anos, passará a constar como critério obrigatório.
Em que consiste a metodologia e quais as conclusões dos estudos já realizados?
Em termos metodológicos, testámos diferentes parâmetros microbiológicos e fisico-químicos e acabámos por utilizar aqueles que mais facilmente caracterizam a qualidade da areia. Uma das conclusões interessantes a que chegámos foi que a qualidade da areia melhora com a época balnear, o que demonstra uma preocupação dos concessionários e das autarquias com a limpeza do areal. Quanto maior for a frequência da limpeza, maior é a qualidade da areia, especialmente no que diz respeito à areia seca. No caso da areia molhada, chegámos à conclusão de que a qualidade está directamente relacionada com a qualidade do mar. Se a qualidade do mar for boa, a areia molhada tem uma boa qualidade, e vice-versa. A monitorização da qualidade da areia é muito importante, até para evitar futuros problemas cutâneos nos utilizadores das praias.