
Apagão ibérico: ERSE faz balanço da investigação preliminar da ENTSO-E
Uma sequência de variações anómalas de tensão e frequência, acompanhada por perdas de produção em cascata na rede elétrica espanhola, está na origem do apagão que afetou os sistemas de energia de Portugal e Espanha no passado dia 28 de abril. Esta é a principal conclusão da análise preliminar conduzida pelo grupo de peritos da Rede Europeia de Operadores de Redes de Transporte de Eletricidade (ENTSO-E), cuja investigação ainda decorre. A informação foi divulgada esta segunda-feira pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE).
De acordo com os dados recolhidos até ao momento, a manhã do dia do incidente ficou marcada por oscilações no sistema elétrico ibérico, sobretudo do lado espanhol, com variações significativas de tensão a partir das 10h30. Pouco depois do meio-dia, ocorreram desligamentos de produção em várias zonas de Espanha — nomeadamente nas regiões de Granada, Badajoz e Sevilha — totalizando cerca de 2.200 megawatts, o que levou a um aumento da tensão e a uma quebra acentuada da frequência.
Estas perturbações acabaram por provocar a perda de sincronia entre os sistemas elétricos de Portugal e Espanha e o restante sistema europeu. “A sobretensão desencadeou perdas de produção em cascata, o que causou a queda da frequência do sistema elétrico espanhol e português”, descreve a ERSE, com base na análise do grupo de peritos. Os planos automáticos de proteção e defesa do sistema foram acionados, mas não conseguiram evitar o colapso da rede ibérica.
A ENTSO-E organizou esta investigação em duas fases. A primeira, atualmente em curso, consiste na recolha e análise de dados que permitam reconstruir a cronologia do apagão e identificar as causas exatas. O relatório factual deverá ser entregue antes do prazo legal de 28 de outubro. Numa segunda fase, os peritos irão apresentar recomendações para prevenir futuros incidentes desta natureza, num relatório final que será remetido à Comissão Europeia e aos Estados-Membros.
O painel responsável pela investigação é composto por 45 peritos de operadores de rede de transporte (ORT) de vários países europeus, incluindo especialistas da ACER (Agência de Cooperação dos Reguladores de Energia), das entidades reguladoras nacionais — entre as quais a ERSE — e dos centros de coordenação regionais. O grupo é liderado por técnicos de ORT que não foram diretamente afetados pelo incidente.
Durante a ocorrência, os sistemas de proteção entre França e Espanha também atuaram. As linhas de corrente alternada entre os dois países foram desligadas por dispositivos automáticos às 12h33, e a ligação em corrente contínua entre os dois sistemas cessou o transporte de energia um minuto depois. A investigação baseia-se em medições detalhadas de tensão e frequência em subestações de alta tensão em Espanha e Portugal.
A recuperação do sistema iniciou-se imediatamente após o apagão. Em Portugal, a REN ativou os seus planos de emergência e solicitou o arranque autónomo de duas centrais: Castelo de Bode (hidroelétrica) e Tapada do Outeiro (ciclo combinado a gás). Graças à atuação coordenada com a Red Eléctrica, em Espanha, e com os operadores francês (RTE) e marroquino (ONEE), o fornecimento foi restabelecido progressivamente ao longo do dia.
“A rapidez na reposição do serviço demonstrou a preparação e a eficiência dos operadores de rede de transporte afetados”, salientou a ENTSO-E, citada pela ERSE. O processo de restauração em Portugal foi concluído às 00h22 do dia 29 de abril, enquanto em Espanha a normalidade foi restabelecida por volta das 04h00 da madrugada.
Todas as atualizações da investigação estão disponíveis no site oficial da ENTSO-E, que centraliza a informação sobre este incidente. Os dados, ainda sujeitos a alterações, continuarão a ser atualizados à medida que o trabalho do painel de peritos progride.