
Cristina Rocha (LNEG): “É na fase do design que mais se influencia perfil de sustentabilidade do produto” (VÍDEO)
O design para a sustentabilidade, uma área que é estudada pelo Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), pode ter um papel fundamental para o cumprimento de alguns dos 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, nomeadamente os que dizem respeito à “indústria, inovação e infra-estruturas” e “produção e consumo sustentáveis” diminuindo o desperdício de materiais.
“É na fase de design que mais se influencia o perfil de sustentabilidade de um produto porque é na fase de design que definimos quais os materiais que vão ser integrados nos produtos, quais vão ser os componentes, qual a sua origem e como é que o produto vai ser transportado, fabricado, embalado e utilizado. É possível definir como vai ser viabilizada a sua reciclagem ou então um identificar um destino final adequado em fim de vida”, explica ao Ambiente Online a investigadora do LNEG, Cristina Sousa Rocha.
O design para a sustentabilidade não é mais do que a integração sistemática de preocupações não só ambientais e económicas, mas também sociais no design de produto, o que permite influenciar comportamentos, padrões de consumo, que são uma das principais fontes de insustentabilidade.
“Nesta sociedade de consumismo, de descarte muito rápido dos produtos, vamos encontrar desperdícios enormes de recursos, fontes enormes de resíduos, sobretudo nos países mais subdesenvolvidos, também propiciadores de grandes desigualdades, ao nível dos custos das matérias primas”.
Cristina Sousa Rocha lembra que há uma oportunidade de reverter estas tendências, inclusivamente promovendo o design não apenas de produtos, mas também de serviços que permite satisfazer as mesmas funções, sem que os consumidores sejam detentores do produto físico. “É possível dissociar a geração de riqueza, que é um imperativo, do consumo de recursos naturais materiais e energéticos”.
A investigadora reconhece que os designers não actuam sozinhos, mas em parceria com outros elementos das empresas, como a produção, o marketing e outros elementos, como os representantes dos consumidores, os futuros utilizadores dos produtos, e fornecedores.
É preciso apostar na formação, desenvolver metodologias e passá-las à prática através de ferramentas que os designers e as empresas podem utilizar. “É importante percebermos que ao melhorar um aspecto ambiental ou social numa fase do ciclo de vida do produto muitas vezes estou a piorar outro. Se calhar para ter um produto que consuma menos energia estou a precisar, por exemplo, de mais material de isolamento, por exemplo”.
Recentemente desenvolveram-se avaliações de custos de ciclo de vida e ainda métodos de avaliação social do ciclo de vida que permitem acompanhar ao longo de todas as fases do ciclo de vida de um produto quais os impactos nos direitos humanos, nas práticas laborais, ou seja, no fundo qual a pegada social daquele produto.
A informação está em construção para que os designers, em diálogo com os representantes dos departamentos de sustentabilidade das empresas, consigam fazer as melhores opções, lembra Cristina Sousa Rocha.
A investigadora participou na semana passada na cerimónia da aliança para os ODS, que decorreu na Culturgest, em Lisboa, que que foi subscrita por várias entidades e associações visando a concretização do 17º objectivo – as "parcerias para a implementação dos objectivos".
Ana Santiago