
Economia Circular e a recuperação de recursos - Projeto RES URBIS
A economia circular assenta na transição do modelo linear de produção de bens e serviços (extração de matéria-prima, produção, uso e descarte dos produtos) para um modelo circular, onde os materiais são devolvidos ao ciclo produtivo através da recuperação, reciclagem e reutilização.
Para o setor da água, a transição para uma economia circular apresenta uma oportunidade para adotar, acelerar e scale-up os mais recentes avanços científicos e tecnológicos que suportam uma maior eficiência no setor (1) e sobretudo um fecho do ciclo da água.
No setor da água encontram-se identificados três caminhos no âmbito da economia circular: o caminho da água, o caminho dos materiais e o caminho da energia (1). A recuperação de recursos apresenta alguns desafios, tais como encontrar mercados dispostos a trabalhar com produtos recuperados como alternativas para produtos recém-fabricados ou recém-extraídos. Uma questão fundamental prende-se com a dimensão/escala das unidades de recuperação de recursos, para que seja economicamente vantajosa a sua adoção, uma vez que a indústria e a agricultura dependem de preços altamente competitivos.
Existem ainda outras barreiras associadas a esta temática, tais como tecnológicas, a aceitação dos consumidores à utilização de recursos recuperados (dos resíduos) e ainda a questão legislativa, com o paradigma da definição de resíduos versus produtos.
No âmbito da estratégia da Águas do Tejo Atlântico e na mudança de paradigma que se encontra a implementar de transformar as estações de tratamento de águas residuais em Fábricas de Água, a Águas do Tejo Atlântico encontra-se a participar no projeto RES URBIS - RESources from URban BIo-waSte2 .
Atualmente os resíduos sólidos urbanos e as lamas das Fábricas de Água são recolhidos e tratados em separado originando uma grande quantidade de resíduos orgânicos. O RES URBIS tem como objetivo combinar o tratamento de bioresíduos de origem urbana incluindo também os resíduos de parques e jardins e possivelmente os resíduos da indústria alimentar de composição adequada e converte-los em diferentes tipos de bio-produtos, tais como filme de plásticos, componentes elétricos e eletrónicos, películas de embalagens, entre outros.
Trata-se de um projeto financiado ao abrigo do programa Horizonte 2020, Grant Agreement 730349 em cerca de 3 milhões de euros, com uma duração de 3 anos e que teve início em janeiro de 2017, coordenado pela Universidade de Roma “La Sapienza”.
Relativamente à atividade experimental para a produção de bioplásticos, as lamas provenientes das Fábricas de Água de Frielas estão a ser testadas no laboratório da Faculdade de Ciências e Tecnologia, e na estação piloto em Frielas.
Os resíduos são colocados em biorreatores, onde ocorrem reações químicas envolvendo as bactérias, que depois produzem biopolímeros, tais como os Polihidoxialcanoatos (PHA). Estes PHA são bastante parecidos com os plásticos convencionais nas suas propriedades mecânicas e químicas.
Durante o projeto serão ainda trabalhadas as diferentes barreiras já identificadas: análise de mercados para diversos cenários económicos e modelos de negócios para a plena exploração de produtos de base biológica; desenvolvimento de atividade experimental direcionada, usando a combinação apropriada de tecnologias inovadoras, para a resolução de algumas questões técnicas (relacionadas com os processos e produtos); e, o envolvimento dos diferentes stakeholders durante o projeto.
Rita Alves, Responsável de Investigação e Desenvolvimento da Águas do Tejo Atlântico
(1) Water Utility Pathways in a Circular Economy, 2016, IWA – International Water Association
(2) Financial support by EU Horizon 2020 Programme under Grant Agreement 730349