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Electrão: "Há um longo caminho a percorrer" para obter melhores resultados com REEE

Apenas 22% dos equipamentos elétricos usados são reciclados a nível mundial, segundo os resultados do 4º relatório 'Global E-waste Monitor', produzido pela Organização das Nações Unidas. Neste contexto, o Electrão afirmou esta sexta-feira, em comunicado, que há um longo caminho a percorrer para que o país e o mundo possam apresentar melhores resultados nesta área.

"O panorama da recolha e reciclagem deste tipo de equipamentos não é animador ao nível global e mesmo na Europa têm sido feitos avisos à navegação por parte de Bruxelas. Portugal faz parte de um grupo de países, já sinalizados pela Comissão Europeia, que está em sério risco de incumprimento da meta de 2025, de preparação para reutilização e reciclagem definida para os resíduos urbanos, em que se incluem os equipamentos elétricos usados", avalia a entidade gestora.

De acordo com o Electrão, a acumulação de equipamentos obsoletos por parte de particulares e empresas e o mercado paralelo são dois dos principais motivos que travam o avanço na recolha de REEE: "Milhares de toneladas são desviadas, todos os anos, do circuito formal da reciclagem para o mercado paralelo. Esta prática implica graves prejuízos para a saúde pública e para o ambiente, já que estes aparelhos são tratados sem que seja acautelada a sua descontaminação".

 

“É imperativo fiscalizar e sancionar os agentes económicos que operam neste mercado. Só com a atuação concertada de todas as entidades responsáveis será possível combater este flagelo e colocar o país no caminho do cumprimento das metas de recolha”, sublinha Pedro Nazareth, CEO do Electrão.

O papel do cidadão é igualmente importante para continuar a melhorar os resultados, mas urge, também, envolver neste desafio todos os agentes da cadeia de valor.

 

Pedro Nazareth realça, ainda, que as novas diretrizes que estão a emanar da Europa têm vindo a alterar alguns conceitos que podem influenciar a forma como são calculadas as metas de recolha e reciclagem, como é o caso do conceito de quantidade disponível para recolha.

“Entendemos que isto pode ser uma resposta ao desafio da economia circular. Este conceito vem pela primeira vez retirar a tónica da recolha e reciclagem com base no consumo ou na estimativa que fazemos da produção de resíduos e avalia a reciclagem pelo que está efetivamente disponível para recolher e reciclar, como produto da nossa sociedade de consumo”, analisa. “Com uma economia mais circular, que pressupõe uma maior reutilização dos produtos na fase do consumo, o que é expetável é que os resíduos a serem geridos venham a diminuir e não a aumentar”, acrescenta ainda Pedro Nazareth.

“Por um lado, vamos ter entidades gestoras a recolher resíduos para atingir metas de reciclagem. Por outro lado, temos aqui um conjunto de iniciativas de promoção da economia circular que querem reter produtos na fase de consumo não sendo gerados os resíduos necessários para cumprir metas de recolha e reciclagem. É um paradoxo da economia circular a que a regulação procura responder com um novo conceito para o cumprimento de meta”, enfatiza.

Este conceito foi aplicado ao regulamento de pilhas e baterias usadas, mas poderá estender-se à gestão de equipamentos elétricos usados e até poderá ser aplicado no contexto das embalagens.

O 4º relatório Global E-waste Monitor foi divulgado esta quarta-feira, 20 de março, e é elaborado por um dos organismos das Nações Unidas – UNITAR (United Nations Institute for Training and Research) em colaboração com o ITU (International Telecommunication Union) e Fundação Carmignac.

De acordo com o relatório, o descarte de equipamentos está a aumentar a um ritmo cinco vezes superior à reciclagem em todo o mundo.

Segundo o estudo foram geradas, em 2022, a nível mundial, 62 milhões de toneladas de equipamentos elétricos usados, um número recorde, que representa mais 82% do que em 2010.  Esta quantidade seria suficiente para encher 1,55 milhões de camiões de 40 toneladas, suficientes para circundar o Equador. Até 2030 é expetável que a quantidade de resíduos produzida aumente mais 33%, atingindo as 82 milhões de toneladas em todo o mundo.

Apenas 22% dos equipamentos elétricos terão sido devidamente recolhidos e reciclados em 2022, o que corresponde a 62 mil milhões de dólares em recursos que não são aproveitados e que vão contribuir para aumentar a poluição, com consequências graves para a saúde pública e ambiente.

A previsão é que a taxa de reciclagem global desça para 20% até 2030 face ao ritmo do descarte. Entre os fatores que contribuem para esta estimativa está o progresso tecnológico, o aumento do consumo, as opções de reparação limitadas, os ciclos de vida mais curtos dos produtos, a crescente eletrificação da sociedade, as deficiências de conceção e insuficientes infraestruturas de reciclagem em alguns países do mundo.

O relatório sublinha que se os países conseguissem elevar as taxas de recolha e reciclagem de resíduos eletrónicos para 60% até 2030, os benefícios – incluindo a minimização dos riscos para a saúde humana – excederiam os custos em mais de 38 mil milhões de dólares.

Recursos valiosos, que a União Europeia já identificou como matérias-primas críticas, essenciais para a transição ecológica e digital, no valor de vários milhões de dólares, são desperdiçados, queimados ou colocados em aterros em todo o mundo. Atualmente, apenas 1% de materiais raros é proveniente da reciclagem. Este é um cenário que a Europa pretende mudar, o que pressupõe aumentar os níveis de reciclagem.

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