
Eurostat: Portugal é o pior país da Europa a tratar os resíduos elétricos e eletrónicos
Os mais recentes dados do Eurostat, citados pela ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável em comunicado, revelam que Portugal é o pior país da União Europeia a tratar os Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrónicos (REEE), tendo atingido em 2020 uma taxa de reciclagem de 32% dos REEE, abaixo de 24 países, quando a média comunitária foi de 45%.
A associação ambientalista lamenta, assim, “este descalabro”, embora afirme que a situação “era previsível, face à total incapacidade e falta de vontade política dos diversos responsáveis pelo Ministério do Ambiente, com particular destaque para o contributo negativo do ex-Ministro do Ambiente (João Pedro Matos Fernandes)”.
Para a ZERO, alguns dos principais problemas que afetam a gestão dos REEE estão relacionados com o subfinanciamento do respetivo sistema de gestão, com a baixa penalização pelo incumprimento de metas das entidades gestoras e ainda pelo facto de os comerciantes não recolherem os frigoríficos velhos quando entregam o novo.
Neste contexto, a ZERO solicitou uma reunião de emergência ao ministro do Ambiente: “Tendo em conta a realidade existente em 2020 e o facto de em 2021 e 2022 não ter havido desenvolvimentos positivos significativos na recolha dos REEE, a ZERO enviou hoje [15 de dezembro] uma carta ao Sr. Ministro do Ambiente e da Ação Climática solicitando o agendamento de uma reunião com caracter de urgência sobre esta temática”.
Dados do Eurostat sobre resíduos eletrónicos não mostram realidade, diz CEO da Electrão
Por sua vez, o presidente executivo da entidade gestora de resíduos Electrão, Pedro Nazareth, questionou os dados do Eurostat que colocam Portugal em último lugar no tratamento de resíduos elétricos e eletrónicos, explicando que falta uniformização dos dados europeus.
“Nem a Bulgária é o país de referência nem Portugal está em último lugar”, disse o responsável à Lusa a propósito dos dados.
De acordo com o Eurostat, na percentagem de reciclagem de Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrónicos (REEE), Portugal era em 2020 o pior classificado, com pouco mais de 30% (Chipre e Roménia sem dados), seguido de Itália, com mais de 35%. A Bulgária apresentava uma percentagem superior a 90% e a média comunitária estava nos 45%.
Nas declarações à Lusa Pedro Nazareth explicou que Portugal reporta a Bruxelas os equipamentos usados que são recolhidos seletivamente e bem reciclados, enquanto muitos outros países reportam todos os equipamentos, mas sem ter em conta a qualidade da reciclagem, bastando o equipamento ser recolhido e encaminhado para já ser considerado.
É preciso, disse o responsável, que se uniformize a recolha para reciclagem, para que as estatísticas sejam fiáveis. E garantiu que os dados que chegam de Portugal referem a reciclagem correta, com o tratamento de todos os componentes perigosos.
Ainda assim Pedro Nazareth não nega que há muito ainda por fazer na reciclagem de REEE, destacando dois problemas, um deles o facto de ainda serem colocados no caixote do lixo comum, por muitos consumidores, os pequenos equipamentos, salientando que o Electrão tem hoje mais de sete mil pontos de recolha no país, e que na página https://ondereciclar.pt é possível encontrar o local mais perto.
Outro problema destacado pelo presidente da entidade gestora (de REEE mas também de pilhas e embalagens) prende-se com os grandes equipamentos (frigoríficos por exemplo), que são recolhidos pelas autarquias e pelas empresas, mas que também acabam num mercado informal e paralelo, que retira o material de valor e deixa o resto no ambiente.
Esse “desvio” acontece de forma clara e frequente há vários anos, mas as autoridades ambientais “pouco ou nada” têm feito, lamentou.
O Electrão, disse Pedro Nazareth, tem apelado a uma maior responsabilização dos diversos agentes da cadeia de valor dos REEE, e continua a missão de sensibilização dos consumidores, nomeadamente sobre os pequenos REEE.