
Investigadores do Politécnico de Leiria criam sistema inovador para prevenir e combater incêndios florestais
Uma equipa de investigadores do Instituto Politécnico de Leiria (IPL) desenvolveu o sistema DBoidS, uma solução tecnológica que combina drones, gémeos digitais, inteligência artificial e realidade aumentada para prever, prevenir, detetar e apoiar o combate a incêndios florestais. A apresentação prática do projeto decorreu esta quinta-feira, 26 de junho, na Lagoa da Ervedeira, em Leiria, conforme divulgado pelo próprio IPL.
O DBoidS distingue-se de outros sistemas ao atuar não só na prevenção e combate, mas também na fase de previsão dos fogos. “Este projeto foi desenvolvido ao longo dos últimos três anos para preencher uma lacuna na prevenção dos incêndios florestais, dado que os sistemas existentes focam-se maioritariamente na prevenção, combate e rescaldo, enquanto o DBoidS acrescenta a componente de previsão”, explicou António Pereira, investigador principal do projeto e docente do IPL. O investigador salientou a urgência desta inovação, lembrando que “em 2020, Portugal foi o segundo país da Europa com mais áreas ardidas e, em 2017, registou os maiores incêndios da União Europeia”.
O funcionamento do sistema inicia-se pela identificação das zonas florestais com maior risco de fogo, através do cálculo de um índice global de incêndio. Depois, uma frota coordenada de drones é enviada para vigiar estas áreas, cada um com tarefas específicas. “Os drones trabalham em equipa, coordenados por uma plataforma central, o que é diferente do habitual, em que se vê uma missão individual para cada drone”, sublinhou António Pereira. Equipados com algoritmos treinados para reconhecer potenciais fontes de ignição, os drones monitorizam continuamente a floresta, detetando movimentos de pessoas ou veículos.
Quando algum movimento suspeito é detetado, o sistema alerta de imediato o centro de comando, onde as imagens em tempo real são complementadas por realidade aumentada. “Os operacionais têm o poder de decisão, porque o sistema não substitui, mas apoia o trabalho humano”, esclareceu o investigador. Em caso de incêndio, a inteligência artificial integrada permite prever a propagação do fogo e avaliar os possíveis cenários, ajudando as autoridades a planear a resposta mais eficaz.
Além disso, o DBoidS regista todas as imagens e dados recolhidos, facilitando a identificação da origem dos incêndios. António Pereira destacou ainda que este sistema “é modular e pode interligar-se com os equipamentos já usados por entidades como a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) e o Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da GNR”.
Com o protótipo concluído, o objetivo dos investigadores é transferir a tecnologia para uso pelas autoridades. “Não vemos a conclusão do projeto como um fim, mas como um ponto de partida”, afirmou António Pereira, realçando a importância da aplicação prática das investigações realizadas no IPL.
O DBoidS foi financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e desenvolvido em colaboração com várias entidades, incluindo a ANEPC, GNR, Polícia Judiciária, AGIF, ICNF e Câmara Municipal de Leiria, tendo começado em 2022.