
Parlamento Europeu valida nuclear e gás como investimentos “verdes”
O Parlamento Europeu validou hoje a classificação de nuclear e do gás como fontes de energia economicamente sustentáveis do ponto de vista ambiental, ao rejeitar uma moção de objeção à polémica proposta da Comissão Europeia.
Para a proposta do executivo comunitário ser vetada, a moção precisava de reunir 353 votos (maioria absoluta) na votação hoje realizada no hemiciclo de Estrasburgo, França, mas teve apenas 278 votos a favor (328 contra e 33 abstenções), pelo que o ato delegado sobre a taxonomia (sistema de classificação para investimentos `verdes`) deverá entrar em vigor a partir de 01 de janeiro do próximo ano, caso o Conselho (Estados-membros) também não levante objeções até à próxima segunda-feira.
Em março passado, a Comissão Europeia propôs um regulamento delegado denominada “taxonomia climática da UE" para incluir atividades específicas nos domínios da energia nuclear e do gás, sob determinadas condições, na lista de atividades económicas sustentáveis do ponto de vista ambiental, o que desencadeou uma forte polémica e divisões, incluindo nas bancadas parlamentares.
Uma vez que a Comissão Europeia considera que o investimento privado em atividades relacionadas com o gás e a energia nuclear tem um papel a desempenhar na transição ecológica, propôs a classificação de determinadas atividades nestes domínios como atividades de transição que contribuem para atenuar as alterações climáticas, podendo estas beneficiar assim de fundos.
ZERO: Gás fóssil e nuclear e como "verdes" - um dia triste para o clima e para o ambiente
Na sequência da decisão validada hoje pelo Parlamento Europeu, a ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável classifica-a como “um dia triste para o clima e para o ambiente”, apesar de saudar o facto de os eurodeputados portugueses se terem oposto à proposta.
“Embora a inclusão destas atividades nesta classificação seja limitada no tempo e dependente de condições específicas, trata-se claramente de um revés no Pacto Ecológico Europeu e na sua ambição”, escreveu a ZERO em comunicado.
“Desta forma, a ZERO lamenta que estejam assim postos em causa os objetivos climáticos europeus, porque a utilização do gás fóssil implica grandes quantidades de emissões de gases de efeito de estufa, quer na queima (dióxido de carbono), quer ao longo de toda a cadeia de extração e transporte (metano). Estão assim criadas condições para incentivar investimentos em novas centrais a gás que farão aumentar a dependência da União Europeia de gás fóssil importado, prejudicando ainda o objetivo de alcançar a independência energética total da Rússia e perpetuando a dependência energética de outros blocos económicos. Assim, quer no caso do gás quer no do nuclear, esta uma forma de energia com prazos de implementação incompatíveis com os objetivos climáticos, vão-se desviar recursos preciosos para estas tecnologias que deveriam ser aplicados em soluções de energia renovável verdadeiramente sustentáveis e capazes de conduzir à independência energética”, acrescentou ainda a associação ambientalista.