Portugal com maior risco de seca, inundações e incêndios florestais
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Portugal com maior risco de seca, inundações e incêndios florestais

O Painel Intergovernamental da ONU sobre Alterações Climáticas (sigla IPCC em inglês) alertou hoje para um maior risco de secas, inundações e incêndios florestais na Europa do Sul, tanto a curto como a médio prazo, provocado pelos efeitos das mudanças climáticas e por um aumento generalizado da temperatura. Esta conclusão surge no relatório da organização tornado público esta segunda-feira, em Yokohama (Japão). Os impactos na Europa serão sentidos sobretudo nos países do Sul, incluindo Portugal, e afectarão, principalmente,  sectores como a saúde, o turismo, a energia, as florestas e a agricultura.

Elaborado por cerca de 500 cientistas/peritos e representantes políticos, o documento é o segundo de um conjunto de três, onde se analisa o conhecimento actual das mudanças climáticas e o seu impacto no Homem e na natureza em diferentes pontos do mundo. Para Michel Jarraud, secretário da Organização Meteorológica Mundial (OMM), que protagonizou a apresentação das conclusões, trata-se de“um dos mais completos relatórios científicos da História”.

As mudanças climáticas vão provocar, na Europa, um aumento das restrições de água devido à “significativa redução da extracção dos rios e aquíferos subterrâneos”. Menos água nos rios irá levar a uma inevitável quebra da produção hidroeléctrica no Sul da Europa, a nossa principal fonte de energia renovável, que pode cair até 15% em 2050, em relação aos níveis de 2005. Este processo ocorre devido a “uma maior perda de água através do seu processo natural de evaporação, particularmente no sul da Europa” e irá, igualmente, afectar a agricultura de regadio – outra das apostas nacionais - onde pode haver perdas, segundo o documento, de até 25%.

Outro risco assinalado para a Europa prende-se com o aumento das vagas de calor, com impacto negativo na saúde e no bem-estar públicos, na produtividade laboral, na produção agrícola e na qualidade do ar, aumentando a mortalidade no Verão e o risco de incêndios florestais, mais uma vez, “no Sul da Europa”. Assim, espera-se que, em Portugal, as estações de fogos sejam mais longas, com registo de um maior número de dias de perigo elevado e um aumento da área ardida para o triplo ou quíntuplo, até 2100, no pior dos cenários.

As zonas costeiras na Europa também vão sair muito afectadas devido ao aumento do nível do mar e à erosão da costa, com fenómenos de inundações – como os que se viveram no último Inverno em Portugal – a serem mais comuns. Isto deve-se, em parte, à crescente urbanização do litoral, prevendo-se que, se nada for feito, que a população em risco, em toda a União Europeia, aumente em 775 mil a 5,5 milhões de pessoas no final do século, com custos anuais de 17 mil milhões de euros.

O sistema de abastecimento eléctrico terá de se preparar para maiores picos de consumo no Verão. Com as temperaturas a subir, as necessidades de aquecimento podem diminuir 11% a 20% até 2050, segundo o relatório; mas, em contrapartida, as necessidades de arrefecimento na Europa podem mais do que duplicar (aumentando ente os 74% e 118% até 2100). Estas alterações visam sobretudo países com clima ameno e temperaturas moderadas, como é caso de Portugal. O clima afectará igualmente o comportamento da produção das centrais térmicas, que terão dificuldades nos seus sistemas de arrefecimento no Verão devido à menor disponibilidade de água nos rios. O que levará a uma queda de 6% a 19% na sua produção durante os meses mais quentes.

O relatório apresentado pelo IPCC - criado pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente e pela OMM - analisa os efeitos das alterações climáticas actualmente e a médio (entre 2030 e 2040) e a longo prazo (2080-2100), tendo em conta um aquecimento global de entre 2 e 4 graus centígrados, baseado em projecções actuais.

Pode ser reversível?


Adaptar parece sem a palavra cerca para enfrentar os efeitos das alterações climáticas.“Reduzir estes riscos dependerá da nossa capacidade de mitigar os efeitos das mudanças climáticas e de os adaptar às nossas sociedades”, destaca Chris Field, vice-presidente deste grupo de trabalho da ONU. Acções preventivas que visem melhorar a gestão de recursos hídricos e as políticas para promover a poupança de água e o combate aos fogos florestais, a par da redução das emissões de gases com efeito estufa, também podem ajudar.


Quercus pede ao Governo que avance com propostas climáticas mais ambiciosas


Perante este cenário, a associação ambientalista Quercus salientou, em comunicado, que o alerta do relatório deverá pressionar a União Europeia para tomar medidas mais ambiciosas relativamente ao clima.

«As previsões dramáticas para o futuro da Europa estabelecidas neste relatório deverão incentivar a União Europeia (UE) e todos os governos dos Estados-Membros à acção. Perante a iminência de efeitos catastróficos da seca, conflitos de alimentos, incêndios florestais, inundações e extinções, estamos perante num risco grande de mais para as populações e os ecossistemas da Europa”, realça a associação ambientalista.

No entender da Quercus, a UE deve avançar com um pacote climático e energético o mais forte possível para o período pós-2020, incluindo metas obrigatórias para as emissões de gases de efeito estufa, energias renováveis e poupança energética. 

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