
Projeto de deteção da COVID-19 nas ETAR vai ser alargado a todo o país
Depois de mais de um ano de análises através do projeto piloto Covidetect, concluiu-se que o estudo de águas residuais permite identificar precocemente novos surtos. Este vai, por isso, ser estendido a todo o país. Note-se que durante a realização do projeto piloto foram detetadas duas mutações de variantes antes de as próprias autoridades de saúde saberem.
O projeto piloto foi aplicado nas ETAR de Lisboa, Cascais, Gaia e Guimarães, tendo sido ainda monitorizada a circulação do vírus nas redes de drenagem dos efluentes de três hospitais.
Os resultados preliminares desse projeto piloto foram apresentados ontem, dia 26 de maio, em Lisboa, na Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Alcântara, e apesar do seu término estar previsto para agosto, João Matos Fernandes, ministro do Ambiente e da Ação Climática que esteve presente na cerimónia, já garantiu que a análise de águas das ETAR com esta finalidade é para continuar e alargar-se a outros pontos do país. Como nem todas as ETAR estão preparadas para tal, o objetivo é que as novas ou as que venham a ser remodeladas já o estejam.
Segundo a ministra da Saúde, Marta Temido, que também participou no evento, este é um “instrumento poderoso” para lutar contra a pandemia atual, mas também para atuar precocemente em eventuais futurais pandemias, permitindo um sistema de notificação em tempo real às autoridades de saúde.
Por isso mesmo, a fase seguinte do projeto envolve a disseminação dos resultados e a criação de um sistema de alerta em tempo real para notificação das autoridades de saúde e ambiente sobre a reemergência do vírus.
O Covidetect foi lançado em abril do ano passado e financiado pela União Europeia, estando a ser desenvolvido por um consórcio que junta empresas do grupo Águas de Portugal (AdP), a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e o Laboratório de Análises do Instituto Superior Técnico.
Foram analisadas 760 amostras de águas residuais, entre 27 de abril e 2 de dezembro de 2020, “confirmando-se que os dados obtidos para SARS-CoV-2 a partir das águas residuais não tratadas seguiam, de forma bastante ajustada, os novos casos diários reportados para as regiões em que se encontram as ETAR testadas neste estudo”, dizem os responsáveis.
Na cerimónia de hoje também foi explicado que nas águas residuais tratadas foi detetada a presença de material genético do vírus, mas sem capacidade infecciosa.
Os responsáveis pelo projeto têm colaborado com a Comissão Europeia na iniciativa de tornar as águas residuais sentinelas da presença do vírus. A Comissão já fez uma recomendação no sentido de haver uma abordagem comum na vigilância do SARS-CoV-2 e das suas variantes nas águas residuais da União Europeia.
Nuno Brôco, vice-presidente da AdP VALOR (empresa do grupo AdP e líder de consórcio), lembrou que a Comissão Europeia recomendou que todos os Estados-membros implementem este sistema até 31 de outubro deste ano, e acrescentou que Portugal está em condições de o fazer até antes.
A recomendação indica que devem ser monitorizadas ETAR com dimensões acima de 150 mil habitantes.
O responsável disse que o atual projeto, que é piloto e que não envolveu grande quantidade de ETAR nem análises em contínuo, permite com uma antecedência de alguns dias (quatro por exemplo) ter dados sobre um aumento da carga viral num determinado local. “Pretende detetar tendências de crescimento ou decréscimo” da carga viral, disse.
Países como a Austrália ou a Nova Zelândia já estão a usar as ETAR como “sentinela”, criando um sistema ‘online’ em que as ETAR surgem com uma cor verde, que passa a vermelho quando é detetado material genético do vírus.