
As múltiplas aplicações da energia solar térmica: da electricidade aos combustíveis
A energia solar não se esgota com a tecnologia fotovoltaica. As aplicações térmicas são múltiplas e permitem desde a produção de electricidade, à geração de calor de processo industrial passando até pela produção de combustíveis.
"Já é possível reduzir a carga poluente dos combustíveis, que hoje queimamos com grande impacto ambiental, usando energia solar para os processar. Outra hipótese é produzir directamente combustíveis, os chamados solar fuels”, exemplifica o presidente do Instituto Português de Energia Solar (IPES), Manuel Collares Pereira, ao Ambiente Online.
O potencial de todas estas soluções, que têm em comum a necessidade de concentração de energia solar para obtenção de temperaturas elevadas, vai ser abordado durante o simpósio “A concentração solar e o Futuro”, marcado para os dias 1 e 2 de Fevereiro de 2016, na Universidade de Évora. A terceira edição do evento é promovida pelo IPES em colaboração com a Universidade de Évora, LNEG e com o projecto STAGE-STE.
Manuel Collares Pereira defende que é preciso dar espaço a estas aplicações do solar que actualmente em Portugal não têm capacidade instalada. “A utilização desta energia poderá trazer no futuro à energia solar uma capacidade de participação importante da solar no mix energético nacional. Não podemos ficar fechados sobre a fotovoltaica”, sublinha ao Ambiente Online.
Enquanto a fotovoltaica é sobretudo "uma solução descentralizada, que hoje ainda não é facilmente armazenável a custos competitivos e que não satisfaz quando o sol não está a brilhar", a solar termoeléctrica surge como "uma opção de produção centralizada, que permite armazenamento e pode ser despachada quando não há sol", compara.
O especialista considera que Portugal tem condições excelentes para acolher grandes centrais termoeléctricas sobretudo quando se fala na possibilidade de produzir electricidade para exportar.
O solar representa apenas 1,6 por cento no mix energético da electricidade, segundo dados de 2015, e com este empurrão do solar térmico, a juntar à hídrica e eólica, a componente renovável da electricidade poderia alcançar facilmente os 70, 80 por cento e até mais, calcula Collares Pereira.
Neste campo Portugal pode seguir os passos do país vizinho que há muito já dá cartas nesta área. O presidente do IPES espera do Governo sinais nesse sentido. O secretário de Estado da Energia, Jorge Seguro Sanches, já confirmou a sua presença na sessão de encerramento do simpósio.
Durante o evento está prevista uma visita às plataformas de ensaio de concentradores solares de grande dimensão e ao campo de ensaio de concentradores com recurso a sais fundidos, como fluído de extração de energia e de armazenamento, em desenvolvimento na Universidade de Évora.
A cidade, que recebe pela terceira vez o simpósio, tem uma infra-estrutura única a nível europeu que permite fazer testes e desenvolver estas tecnologias que não se investigam na sala de um laboratório. “Somos o país da Europa provavelmente com mais sol e que está melhores condições para fazer este tipo de investigação de nova vaga”, sublinha o professor e investigador.
Ana Santiago