
Tratolixo quer autorização para produzir mais energia a partir de resíduos e injectá-la na rede
A Tratolixo quer autorização para produzir mais energia a partir de resíduos e começar a injectá-la na rede em vez de continuar a pagar para canalizar parte dos recursos - o rejeitado pobre dos TMB (Tratamento Mecânico Biológico) - para queima na Valorsul, como acontece até agora.
O recado foi deixado ao Governo pelo presidente do conselho de administração da Tratolixo, João Dias Coelho, no jantar que assinalou os 25 anos da empresa intermunicipal para o tratamento de resíduos sólidos dos concelhos de Cascais, Mafra, Oeiras e Sintra e que se realizou na sexta-feira à noite, em Cascais.
“Pagamos para colocar combustível na Valorsul. Isto quando podemos desenvolver essa actividade no nosso sistema. Há muito tempo que o dizemos. Já tínhamos explicado isso ao anterior Governo”, sublinha João Dias Coelho.
“Os elevados quantitativos de resíduos urbanos indiferenciados entregues e pagos (a cerca de 22 euros por tonelada) pela nossa empresa, operadora de resíduos, também pelo PCI [Poder Calorífico Inferior] elevado que possuem, produzem energia e permitem o funcionamento de uma terceira linha de queima altamente rentável (com renda subsidiada) para a empresa [Valorsul] sem que daí a Tratolixo em nada beneficie”, concretiza.
João Dias Coelho considera que, no que diz respeito à reinvindicação da Tratolixo, falta apenas "vontade política" para resolver a situação e mostra-se no entanto convicto de que reinará o “bom senso”.
O secretário de Estado do Ambiente, Carlos Martins, presente no jantar, afirmou aceitar o desafio para dentro das suas possibilidades "poder ajudar a Tratolixo a alcançar os seus anseios tornando-se numa empresa ainda mais forte no futuro".
Esta solução permitiria à Tratolixo não só ter a autonomia energética necessária, mas também reduzir a tarifa. Por outro lado ofereceria alternativas a outros operadores de CDR (Combustível Derivado de Resíduos) que não pretendem entregar os recursos às cimenteiras por não ser rentável.
João Dias Coelho lembra que os concelhos que o sistema serve são altamente consumidores de energia. "Entendemos que para equilibrar não só o sistema, mas também para compensar com energias renováveis e verdadeiramente verdes, os consumos destes concelhos é necessário aproveitar a possibilidade de produzir CDR e valorizá-lo in situ, aqui mesmo”, defende.
Na Abrunheira, na Central de Digestão Anaeróbia (CDA), a Tratolixo já atingiu os 24 gigawatts, excedendo em 30 por cento o previsto, mas quer aumentar a capacidade. “Temos capacidade técnica para fazer o trabalho bem feito. Estamos próximos, em Trajouce, de uma subestação da REN e podíamos injectar energia na rede fortalecendo um ponto estratégico”, sugere.
Neste momento a empresa entrega a terceiros 160 mil toneladas por ano por incapacidade de processamento, mas pretende investir em linhas de triagem de resíduos indiferenciados para valorizar os materiais recicláveis, o que significa que o rejeitado no futuro rondará as 75 mil toneladas ano, que poderão ser valorizadas in situ. “Lá por sermos operadores públicos não podemos ser privados dessa oportunidade que outros já têm”, sublinha.
A empresa tratava 30 por cento dos resíduos, passou a tratar 60 por cento dos resíduos em 2015, mas quer chegar aos 100 por cento. “O que queremos, se nos deixarem, é conseguir tratar a totalidade dos resíduos produzidos. Para isso temos que ter meios. É para isso que nos estamos a candidatar a fundos comunitários”, revela João Dias Coelho.
VALORIZAR O MATERIAL RECICLÁVEL
A Tratolixo está a preparar candidatura a fundos comunitários do Portugal 2020, nomeadamente do PO SEUR (Programa Operacional Sustentabilidade no Uso dos Recursos) para uma central de triagem mecânica com duas linhas para recuperar materiais recicláveis dos resíduos sólidos urbanos indiferenciados no Eco Parque de Trajouce, uma unidade com 25 anos e actualmente com pouca eficiência.
“Temos uma eficiência de 2,9 por cento em termos de recuperação de matérias recicláveis e existem operadoras, no Alentejo, por exemplo, com 12,6 por cento. O nosso objectivo é atingir os 13 por cento”, revela João Dias Coelho.
O investimento global deve rondar os 25 milhões. Em 2018 a empresa prevê, com os investimentos que irá fazer em tratamento mecânico, reduzir a tarifa de 58 euros, a mais cara do país, para 40 euros por tonelada.
Já o investimento para a produção de CDR só avançará se houver mercado. “Não podemos estar anos à espera de licenças”, avisa.
UMA NOVA PÁGINA NA HISTÓRIA DA EMPRESA
O jantar dos 25 anos da Tratolixo juntou pela primeira vez os colaboradores das várias unidades da empresa de forma a assinalar uma nova etapa na história da empresa.
“Esta é uma reunião que se faz pela primeira vez depois de problemas gravíssimos que a Tratolixo conseguiu debelar nomeadamente relacionados com a inexistência de liquidez financeira e ausência de financiamento quer europeu quer da banca”, recorda João Dias Coelho.
Em 2012 e 2013 a empresa enfrentou um processo de insolvência, mas conseguiu ultrapassar as dificuldades graças ao trabalho em equipa e à colaboração dos municípios que ajudaram a negociar com a banca. A empresa conseguiu um perdão da dívida, deixou de lado os outsourcings e internalizou alguns serviços, o que foi determinante para a redução de custos. “Só os resíduos verdes representavam mais de meio milhão em prestação de serviços”, exemplifica.
A empresa hoje está economicamente sustentável e reduziu a dívida a fornecedores, que era de 24 milhões, para apenas seis pagando 18 milhões em pouco mais de dois anos.
“Fomos pioneiros em muita coisa e merecemos que viremos uma página sobre alguns momentos menos felizes do passado para passarmos a ser encarados como um player de referência em termos de qualidade, sustentabilidade ambiental e enquanto parceiros”, congratula-se João Dias Coelho que lembra que a Tratolixo tem um património "histórico a referenciar".
Ana Santiago