
ZERO contesta plano de investimentos em rede de gás e defende encerramento faseado
A ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável apresentou à Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE) um parecer crítico ao Plano Decenal Indicativo de Desenvolvimento e Investimento na Rede Nacional de Transporte de Gás (PDIRG 2025), cuja consulta pública terminou esta sexta-feira, 20 de junho. Em comunicado, a ZERO rejeita os investimentos previstos, alegando que estes não estão alinhados com os objetivos de descarbonização do país e da União Europeia.
Segundo a organização, a proposta em consulta “não respeita os princípios de suficiência e eficiência energética” e poderá manter ativa uma rede de gás natural obsoleta, comprometendo recursos públicos e privados que, no seu entender, deveriam ser canalizados para soluções energéticas sustentáveis.
Um dos principais pontos de crítica é o investimento de mais de 111 milhões de euros em projetos de mistura de hidrogénio com gás natural, o chamado blending, que visa adaptar a rede de transporte e o armazenamento subterrâneo a uma incorporação de até 10% de hidrogénio. Para a ZERO, esta abordagem é “tecnologicamente ultrapassada” e “sem racionalidade económica ou técnica”, além de contrariar o novo regulamento europeu, que recomenda um limite de 2% e apenas como medida de último recurso.
A associação defende um modelo descentralizado para os gases renováveis, como o hidrogénio verde e o biometano, com produção e consumo locais. Considera que esta estratégia “maximiza a eficiência, reduz custos e evita investimentos desnecessários em redes de grande escala”. A utilização generalizada de hidrogénio em setores que podem ser eletrificados diretamente é vista como ineficiente e com impactos negativos no território.
A ZERO propõe ainda o planeamento urgente de um encerramento faseado da Rede Nacional de Transporte de Gás, a iniciar já nesta década e com conclusão a partir de meados da década de 2040. A reconversão das infraestruturas atuais para novos usos, como o transporte de carbono biogénico para a produção de combustíveis sintéticos, é apontada como uma alternativa sustentável e alinhada com os objetivos climáticos.
Por fim, a organização ambiental critica também os planos para expandir o Terminal de GNL de Sines, considerando incoerente investir numa nova baía de enchimento de cisternas, numa altura em que o consumo de gás está em queda e as energias renováveis ganham expressão. “Não se compreende o reforço de infraestruturas associadas à importação de gás fóssil”, alerta a ZERO.