A nossa casa comum

A nossa casa comum

Roubei este título à encíclica papal Laudato si’­ — Louvado sejas — do Papa Francisco. O título vem de um cântico de São Francisco de Assis que agradece ao Senhor “pela mãe terra, que nos sustenta e governa e produz variados frutos, com flores coloridas e verduras”.

É uma extraordinária visão holística nas vertentes ambiental, económica e social, em que se defende a obrigação que temos de preservar a nossa casa comum, a Terra. É um documento em que se explicitam os perigos da degradação do ambiente, do clima, dos recursos naturais, da escassez de água e do desperdício de um terço da produção alimentar, sem esquecer a destruição da biodiversidade, o aumento da pobreza e a degradação da vida. A “mãe terra” é um todo interligado que devemos respeitar e louvar, em vez de brutalmente explorar.

Hoje, esta mensagem é particularmente importante, uma vez que o presidente da maior potência mundial opôs a esta visão a célebre drill, baby, drill, que representa exatamente o oposto: continuar a explorar os recursos sem qualquer consideração pelo ambiente e pela biodiversidade, sem compaixão pelos menos afortunados; com o único objetivo de enriquecer ainda mais os EUA e, principalmente, ele próprio e seus comparsas, em completo desprezo pelos outros e pela “mãe terra”. O regresso da civilização a uma nova barbárie.

A Europa tem feito alguns esforços interessantes, como a lei de proteção e recuperação de solos contaminados por décadas de exploração intensiva, a proteção da biodiversidade (uma preocupação das diretivas europeias), assim como o combate ao desperdício alimentar. Porém, ainda está longe da visão holística do Papa Francisco: as explorações com culturas intensivas dos solos continuam, o respeito pelas reservas de água potável do subsolo ainda não é uma preocupação urgente. E, mais preocupante, o consumo desenfreado dos europeus ainda não mostra tendência para diminuir.

O nosso país também tem insistido em alguns erros, como tenho afirmado, optando pela produção centralizada da energia fotovoltaica em vez da descentralizada, comprometendo a utilização de solos agrícolas, úteis para outros fins, com uma insustentável degradação da paisagem natural e da biodiversidade, empobrecendo os solos com culturas intensivas que provocam igualmente a escassez de recursos hídricos.

A Europa já percebeu que o caminho de dependência do gás russo barato foi um erro estratégico. Contribuiu para atrasar o investimento na mobilidade elétrica, na digitalização, na computação quântica, na inteligência artificial (IA) e noutros domínios em que se joga a influência futura; pode e deve reverter esse rumo e afirmar-se como uma alternativa civilizada à barbárie.

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