
Assembleia da República chumba redução da TGR para aterro
No âmbito da discussão do Orçamento do Estado, ao arrepio do que deve ser uma boa política de resíduos assente na economia circular, o PCP apresentou uma proposta para redução da Taxa de Gestão de Resíduos (TGR) para Aterro para um valor de 11 euros a tonelada.
Essa proposta foi, felizmente, chumbada pela maioria dos deputados, com votos contra do Bloco de Esquerda, CDS, Livre, PAN e PSD.
De referir que a esta proposta do PCP é bastante paradoxal, uma vez que, ao apoiar a despenalização da colocação de resíduos em aterro, a ser aprovada, esta proposta iria inibir o desenvolvimento da reciclagem, atividade que cria muito mais postos de trabalho do que o aterro, além de desenvolver a indústria nacional, duas causas que são muito queridas deste partido.
Também não se entendem, de todo, as abstenções do Chega, Iniciativa Liberal e PS, que, pelos vistos, não consideram extremamente grave uma proposta, como esta, que originaria impactes ambientais altamente negativos.
Com efeito, a consequência imediata da aprovação desta proposta seria facilitar o despejo de resíduos em aterro, com todos os problemas ambientais daí decorrentes, tais como o esgotamento desses aterros (de que agora tanto se fala), mas também a promoção da emissões de metano para a atmosfera, com enormes impactes no clima, ou ainda o desincentivo das políticas de promoção da reciclagem.
Em relação ao voto do Chega, não há qualquer razão lógica para viabilizar esta proposta do PCP, até porque tem uma deputada com um passado ambientalista (na Quercus) e que já foi deputada de um partido que defende causas ambientais (o PAN).
(...) o voto do PS é relativamente estranho, uma vez que este partido defendia, até há pouco, uma política de desincentivo da colocação de resíduos em aterro, pelo que não se percebe qual terá sido o motivo desta alteração de posição
Quanto à Iniciativa Liberal, esta posição não faz qualquer sentido, dado que o enchimento dos aterros vai implicar um investimento público evitável em novas células de aterros, ou seja, levando a uma má gestão do erário público, prática que tanto é criticada por este partido.
Finalmente, o voto do PS é relativamente estranho, uma vez que este partido defendia, até há pouco, uma política de desincentivo da colocação de resíduos em aterro, pelo que não se percebe qual terá sido o motivo desta alteração de posição.
Em resumo, o resultado desta votação faz sugerir que os deputados do PS, do Chega e da IL, para já não falar nos do partido que fez esta proposta (PCP), devem pensar que vivem noutro planeta, não seguramente na Terra, onde temos grandes batalhas ambientais para travar, como seja o combate às alterações climáticas e a promoção da boa gestão dos recursos naturais através da economia circular.
(...) se por alguma conjugação negativa dos astros esta proposta do PCP acabasse por ser aprovada, seria a prova de que, apesar das juras pelo ambiente presentes no discurso de vários políticos (...) o que contaria apenas seria os interesses político/partidários
Enfim, se por alguma conjugação negativa dos astros esta proposta do PCP acabasse por ser aprovada, seria a prova de que, apesar das juras pelo ambiente presentes no discurso de vários políticos, no fim do dia, o que contaria apenas seria os interesses político/partidários e não os da população e do ambiente. Felizmente, o bom senso acabou por prevalecer, mas nada impede que situações semelhantes ocorram no futuro.