
Energia solar e território: urge uma avaliação económica e ambiental
As energias eólica e solar são intermitentes e também têm uma baixa densidade energética (energia produzida por unidade de superfície utilizada). A nuclear tem 5,2 TWh/km2, uma central a gás 3 TWh/km2, a solar fotovoltaica apenas 0,08 TWh/km2 e a eólica em terra só 0,013 TWh/km2. Isso obriga a grandes ocupações do espaço se se instalarem megacentrais renováveis para produção centralizada. Fará mais sentido utilizar a fotovoltaica para produções descentralizadas junto do consumidor, tornando-o produtor e consumidor (prosumer), evitando o transporte de energia na rede e as consequentes perdas nesse transporte, e minimizando a utilização do espaço, pois os painéis fotovoltaicos serão instalados nos telhados e terraços dos consumidores. Para a produção descentralizada, em Portugal já temos as Unidades de Produção para o Autoconsumo (UPAC) e as Comunidades de Energia Renovável (CER). Tentei saber o ponto da situação, mas a falta de transparência que existe em Portugal no domínio das renováveis não me permitiu saber a situação dos projetos UPAC e CER já aprovados e dos que esperam aprovação. Lembramos que este Governo tinha dinamizado uma Estrutura de Missão para as Energias Renováveis (EMER) para acelerar os processos… Mas suspeito que essa produção descentralizada, que faz muito mais sentido que a centralizada, continue a avançar a passos de caracol.
O Programa Nacional de Energia e Clima, na sua versão de Revisão do PNEC 2030, previa (página 59) 20,8 GW de fotovoltaica para 2030, sendo 15,1 GW de solar concentrado e apenas 5,7 GW de geração distribuída. E na fotovoltaica centralizada, estarão autorizados já cerca de 12 GW! Isto corresponde a cerca de quarenta parques com grande dimensão, sendo o maior o da Cerca, ocupando uma área de 400 hectares! E haverá 18 parques ainda com maior dimensão. E parece que há mais em tramitação. Uma verdadeira loucura! Não se consegue saber quantos estarão em condições de avançar, entre os já aprovadosatin e quantos dependem ainda de fatores como licenciamento ambiental e autorizações urbanísticas.
Estas novas injeções maciças de fotovoltaica concentrada agravarão o problema da canibalização entre renováveis, devido ao seu excesso em relação ao consumo!
Durante um terço do ano, há grande coincidência entre produção eólica e fotovoltaica, afundando os preços no mercado grossista. Noutro terço, poderá também haver preços baixos se houver hidroeletricidade, e, noutro terço, teremos preços definidos pelas centrais a gás natural, face à ausência de produção renovável. Estas novas injeções maciças de fotovoltaica concentrada agravarão o problema da canibalização entre renováveis, devido ao seu excesso em relação ao consumo! Em Espanha, os excessos de fotovoltaica estão a levar a preços zero ou mesmo negativos no mercado grossista, afetando tremendamente a rentabilidade dos promotores e levando à venda ao desbarato de parques solares. Cheira-me que o filme se vai repetir em Portugal…
Desencadeou-se, pois, uma frenética corrida ao sol, uma grande bolha solar, com atribuição de novas licenças para megacentrais fotovoltaicas a atingirem mais de 12 GW! Já se derrubaram árvores e se mataram animais para a instalação dos painéis. Põe-se em causa a biodiversidade, havendo também o risco de termos áreas completamente artificializadas pela remoção do coberto vegetal. E prossegue tranquilamente o abate de sobreiros para a construção desses megaparques, acelerando a desertificação desses territórios. Teremos:
(1) perdas de habitats, afetando a flora e a fauna locais, com impactos significativos em ecossistemas que já estão sob pressão;
(2) fragmentação do território, dificultando a conectividade entre áreas naturais com a consequente restrição à movimentação de espécies e contribuindo para o isolamento genético;
(3) erosão e degradação do solo, especialmente em áreas florestais ou de alto valor agrícola;
(4) alterações do microclima, pois grandes áreas cobertas por megaparques fotovoltaicos podem alterar o microclima local, afetando a temperatura do solo e a evaporação, o que poderá ter efeitos sobre a vegetação e a fauna.
Trata-se, pois, de autênticos crimes ambientais, mas feitos em nome do Ambiente e do Clima! Só possíveis pela existência de um poderosíssimo lóbi das renováveis intermitentes. E a maior parte destes projetos é agora promovida por grandes fundos financeiros, obviamente em busca de rentabilidade, sendo um mito urbano dizer-se que tais projetos se destinam a salvar o planeta!
O território será ainda coberto por um emaranhado de linhas para o transporte dessa energia. As populações começarão a fartar-se de tanto impacto paisagístico e de tanta ocupação do território!
O território será ainda coberto por um emaranhado de linhas para o transporte dessa energia. As populações começarão a fartar-se de tanto impacto paisagístico e de tanta ocupação do território!
Se houvesse juízo, retomar-se-ia o planeamento da geração de eletricidade face aos consumos projetados e articulava-se o planeamento das redes com o PNEC. Em dias com sol, vento e água e fraco consumo, como nos fins de semana, o que se fará à enorme energia sobrante gerada? Exporta-se, armazena-se, corta-se a produção (curtailment) ou canibaliza-se a renovável instalada pela nova a instalar? E tanta renovável não vai reduzir a necessidade de potência firme de back-up quando não há vento nem sol.
Impõe-se uma avaliação económica disto tudo e convinha ver os limites de ocupação do território.