Oceanos: um mar de problemas
Adiada pela pandemia desde 2020, realizou‑se em finais de Junho em Lisboa a Conferência dos Oceanos da ONU.
Há 24 anos, a EXPO 98 relançava e projectava mundialmente em termos modernos a nossa condição científica e humana de país‑mar. Desde então, a exposição pública da gravidade dos problemas que afectam os oceanos em geral, não parou de crescer. É um mar de problemas aqueles que criamos todos os dias aos oceanos e, portanto, a nós próprios também.
Ainda há poucas décadas, as imagens pavorosas das marés negras e outras menos mediáticas, mas ainda mais pavorosas, dos depósitos de lixo radioativo, alertaram a opinião pública para um envenenamento do mar de escala e gravidade inéditas e que mais tarde ou mais cedo nos tornaria vítimas das nossas próprias acções. Passados estes anos foi possível diminuir um pouco a envergadura destes dois problemas, mas não resolvê‑los. E, entretanto, muitas outras formas de poluição começaram a mostrar a sua face e a gravidade de consequências que acarretam para todo o sistema oceânico. Hoje o tema mais reconhecido e mediatizado é o plástico – problema cuja gravidade é tal que nada a pode exagerar (mais de 80% do lixo marinho!). Mas, juntamente com eles, outros problemas menos visíveis ameaçam‑nos de modo crescente. O mar, grande vazadouro do mundo e da frenética actividade das sociedades humanas que não cuidam dos seus efluentes, acaba a receber tudo e a fechar um circuito onde somos apanhados por tudo aquilo que deitamos fora sem tratamento. Resíduos de medicamentos e químicos de toda a ordem inseridos na cadeia trófica chegam a nós pelos alimentos.
Apesar de todos os alertas continua também prática usual de muitos países afundarem material bélico obsoleto e até munições. O mar é um mundo onde vive e se multiplica a vida de que dependemos. O abuso sobre os seus recursos torna ainda mais estúpida a imparável contaminação que lhe lançamos e esta vida marinha é ainda violentada, não só pelos venenos, mas também pelo excessivo ruído submarino de motores e das explorações petrolíferas ou outras. E a tudo isto acrescem as enormes cadeias de efeitos das alterações climáticas: aquecimento, dilatação, acidificação com consequente perda de biodiversidade e de ecossistemas marinhos dos quais depende a subsistência de milhões de pessoas.
A Conferência dos Oceanos tornou clara a necessidade de inaugurar nestes tempos de guerra e de cegueira um novo futuro para os oceanos e tomar medidas urgentes que os salvem, salvando‑nos também.