
Antigos presidentes da Quercus decidem criar associação ambientalista a partir do “Zero”
Antigos membros da Quercus, alguns dos quais anteriores presidentes, decidiram criar uma nova associação ambientalista - ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável - por estarem descontentes com a actual liderança da organização não governamental (ONG).
“Não se pode negar que nos últimos meses alguns dos associados fundadores da ZERO, que eram activistas dinâmicos na Quercus, deixaram de se rever na estratégia da actual direcção”, confirma ao Ambiente Online o presidente da nova associação, Francisco Ferreira, que chegou a ser líder da Quercus.
Como o Ambiente Online noticiou em primeira mão a guerra interna na Quercus disparou logo após as eleições para os órgãos sociais, em Março de 2015, que deram vitória a João Branco. O mau estar sentido no interior da organização levou alguns dos elementos a ponderar a criação de uma nova associação.
Francisco Ferreira recusa no entanto a ideia que de tudo se tratou de uma mera divergência eleitoral. “Após eleições, mesmo quando existiram projectos concorrentes, sempre houve lugar a um trabalho de união e concertação na diversidade, o que não veio desta vez a acontecer”, sublinha.
O actual presidente da ZERO revela que já há algum tempo se tinha sentido a necessidade de uma forma de intervenção diferente e mais alargada no movimento ambientalista em Portugal. “A ZERO pretende fazer uma ponte dinâmica e estruturante para a construção de sociedades sustentáveis, com enfoque nos assuntos estratégicos de longo prazo, onde, não apenas as questões ambientais, mas também as sociais e económicas mereçam reflexão e propostas”, revela.
Francisco Ferreira garante que a intenção não é fazer sombra à Quercus. “A Quercus, tem, nalguns locais, uma implantação regional muito forte e insubstituível. Existem temas cuja especialização técnica da Quercus é louvável e continuará a ser”, admite.
O presidente da ZERO garante ainda que nenhum dos associados da ZERO, que eram associados da Quercus, deixaram de o ser. “É excelente para o movimento ambientalista em Portugal apresentar uma diversidade cada vez maior de funcionamento, de acção e o nosso desejo é precisamente o de estabelecer parcerias com outras organizações não-governamentais de ambiente e de desenvolvimento. Tomara que a representatividade social e a comunicação e envolvimento dos portugueses sejam os maiores, e a ZERO também está a fazer esse caminho”, assume.
A vice-presidente da ZERO é Carla Graça, que coordenou projectos na área dos recursos hídricos na Quercus, e a secretária, Susana Fonseca, foi presidente da associação.
ZERO QUER 400 ASSOCIADOS ATÉ MARÇO
O objectivo da ZERO é chegar aos 400 associados até ao próximo mês de Março para, de acordo com a legislação em vigor, obter oficialmente a dimensão nacional. “Em três semanas mobilizámos mais de 150 associados, a acrescentar aos cerca de 110 fundadores. Este ritmo de crescimento dá-nos indicações optimistas de que atingiremos essa primeira meta”, revela animado Francisco Ferreira.
Os estatutos da nova associação foram estabelecidos a 2 de Dezembro, mas o verdadeiro arranque deu-se na Assembleia Geral realizada a 23 de Janeiro.
A associação tem sede no Porto e está a usar um pequeno espaço na sede de uma outra organização não-governamental de ambiente, o FAPAS – Fundo de Apoio Aos Animais Selvagens, “uma parceria que está a ter fruto com posições e trabalho conjunto”, informa Francisco Ferreira. O espaço é suficiente para as actuais necessidades da associação, mas mais tarde, se for caso disso, a situação pode ser facilmente reenquadrada pelo que ficou estabelecido nos estatutos da associação.
A ZERO quer ajudar a alcançar metas como: “ZERO combustíveis fósseis, ZERO poluição, ZERO desperdício de recursos, ZERO destruição de ecossistemas e da biodiversidade, ZERO desigualdade social e económica”.
“Só através do equilíbrio entre ambiente, sociedade e economia será possível construir um mundo mais coeso, social e economicamente, em pleno respeito pelos limites naturais do planeta”, resume Francisco Ferreira.
As áreas temáticas da nova associação incluem "sociedades sustentáveis e novas formas de economia; alterações climáticas, energia e mobilidade; ordenamento do território e solos; água e oceanos; biodiversidade; agricultura e florestas".
O financiamento é um dos grandes “desafios” para a ZERO que neste momento está a viver do valor simbólico das quotas, de donativos e de um trabalho voluntário que não tem parado de crescer. “Aliás, o difícil, mas absolutamente fundamental e prioritário, é mesmo aproveitar os muitos associados que querem ajudar a construir este novo projeto”, descreve o presidente.
Francisco Ferreira revela que a ZERO tem muitas ideias para projectos a apresentar no futuro, de forma a financiar-se, preferencialmente em parceria com outras organizações, federações, universidades e empresas.
“Tal irá demorar o seu tempo e por agora há que mostrar que o nosso trabalho é válido e competente, nunca esquecendo a visão de longo prazo que procuramos dar às nossas posições e propostas”, remata.
Ana Santiago